O líder que ensinou o Brasil a vencer

Foi o capitão Zito quem acabou com o “complexo de vira-latas” e mostrou à seleção brasileira que é possível jogar bonito e ganhar

 

O jornalista Odir Cunha defende a tese – verdadeira, inquestionável – de que o Santos de 1962-1963, com sua formação clássica (Gilmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe) foi o maior time do futebol mundial em todos os tempos. De fato, naquele período, o Peixe ganhou todos os títulos possíveis, bateu as maiores equipes europeias e sul-americanas, aplicou a mais sensacional série de goleadas por onde passou.

Foi um momento mágico do futebol mundial em que se demonstrou ser possível unir a eficácia ao espetáculo. O show ao resultado. O Santos não apenas jogava bonito, como nenhum outro time jogou antes ou jogaria depois, mas também ganhava as competições que disputava.

A seleção brasileira também teve um momento assim, quatro anos antes, na Suécia. Ao ganhar a Copa do Mundo pela primeira vez, os brasileiros aplicaram históricas goleadas contra seus adversários na semifinal, contra a fortíssima França, e na final, contra a equipe anfitriã.

Para quem acha que uma coisa (a arte) leva necessariamente à outra (a conquista), os desmentidos são inúmeros: a fantástica seleção húngara de 1954, batida na final da Copa pelos alemães; a revolucionária Holanda de Rinus Mitchels, que maravilhou o mundo em 1974 e perdeu o Mundial para a mesma Alemanha; e o Brasil de 1982, bonitinho mas ordinário. Os exemplos contrários – dos times sem charme mas vencedores – também são inúmeros, mas fiquemos com dois: a citada Alemanha de 1954 e o não-Brasil de 1994.

Tudo isso para dizer que também tenho uma tese: se Pelé foi o maior jogador de futebol de todos os tempos (e não me falem em Maradona, pelo amor de Deus), Zito foi o mais importante. É claro que a segunda afirmação não é tão fácil de sustentar. Mas também tenho meus argumentos, a começar pelo fato de que esses dois jogadores são o traço de união entre o Brasil campeão do mundo em 1958 e o Santos ganhador de tudo em 1962 e 1963. Nesses dois inigualáveis times, Pelé era a genialidade e Zito, o grande condutor.

O dramaturgo Nélson Rodrigues criou uma imagem para explicar a razão pela qual, até 1958, o Brasil jogava bonito mas não ganhava nada. Aqui mesmo, no cone sul da América, éramos fregueses de caderneta de argentinos e uruguaios, que nos surravam impiedosamente. Personalidade fraca? Baixa estima? Para o escritor, sofríamos de insuperável “complexo de vira-latas”.

Pois bem. Quem mudou essa história foi o nosso Zito. Foi ele quem transformou um time de cidade pequena, o Santos, no melhor e mais forte de São Paulo, do Brasil e do mundo. E foi ele quem deu caráter e espírito a uma seleção até então comandada por expoentes dos fracassos de 1950/1954, como Nílton Santos e Didi.

Zito foi a grande diferença de 1958. Só com Pelé e Garrincha, talvez a história se mantivesse. Foi ele quem mostrou aos companheiros que, além de jogar bem, poderiam ser vitoriosos. Não precisavam perder sempre. Zito odiava perder e, em toda a sua carreira, perdeu pouco. O ponto de vista carioca, que prevalece na crônica esportiva, perpetua a imagem de representantes das gerações perdedoras e esquece o nosso grande capitão. Aquele que não ergueu formalmente qualquer das taças, mas levantou definitivamente a cabeça do futebol brasileiro.

JN achata a curva do mundo cão

Sob Mandetta, o Ministério da Saúde fazia o balanço tétrico da covid-19 no fim da tarde. Os números, entretanto, eram sempre parciais, porque alguns estados não enviavam os dados a tempo. Com isso, o Jornal Nacional toda noite informava os números oficiais e, em seguida, acrescentava alguns. Aqueles que quatro ou cinco estados, governados pela oposição ao governo federal, liberavam pouco antes do início do noticioso da Globo. Isso sugeria aos telespectadores que o Ministério, por algum motivo, queria diminuir a tragédia.

Não adiantava a autoridades informarem que o número oficial referia-se às informações recebidas nas 24 horas entre a véspera e aquela tarde. Nesse total, entravam dados do período anterior não fornecidos a tempo pelos estados que preferiam divulga-los no JN. Nunca se acusou esses governadores de tentar esconder sua tragédia.

Posteriormente, o governo federal modificou por algumas vezes o horário e o formato da divulgação dos dados da doença no país. O evento saiu, por exemplo, da sede do Ministério e foi para o Palácio do Planalto. Também ampliou o número de participantes da coletiva de imprensa, que passou a ser concedida às 19 horas, em determinado momento.

Agora, o governo entendeu que, por se tratar de balanço oficial, os dados só deveriam ser comunicados formalmente depois de recolhidos nacionalmente e checados. O que levou a divulgação para em torno das 22 horas. Se coincidiu de o novo horário não atender à pauta do JN, Bolsonaro gostou mais ainda.

Ao contrário de governantes que sempre privilegiaram a Globo, o presidente em exercício não faz questão alguma de acariciar sua algoz. Pelo contrário. Afinal, em qualquer horário, a TV Zorra Total vai sempre acusá-lo de ser o responsável único pela pandemia.

Bonner, em editorial na edição da noite passada, assinou recibo. Entre declarações desnecessárias, mas nunca confirmadas, de respeito ao telespectador, afirmou que passará a divulgar os números quando eles forem liberados pelo Ministério. Só de marra, só de birra – repetindo o comportamento de alguns ministros do STF -, quer porque quer impor sua vontade ao governo

Com isso, incluído o plantão (que na estreia interrompeu a reprise da novela), prorrogou o necrológio de toda noite para além das habituais cenas de corpos e caixões insepultos, covas abertas, corredores de hospitais e a justa lamentação dos parentes, exploradas com todas as cores do sensacionalismo barato.

Podia fazer isso no telejornal seguinte, como sempre fez com o noticiário posterior ao JN. Mas preferiu “achatar” o mundo cão do seu finado jornalismo. Quousque tandem?

 

As legendas trocadas e a falta que a Gazeta Esportiva faz

Que jornalismo é esse que chama arruaceiros de defensores da democracia e omite a queima da bandeira nacional?

A grande mídia “viu” no último domingo, na Avenida Paulista, em São Paulo, um confronto entre defensores da democracia e ruidosos fascistas. Essa foi, pelo menos, a narração dos jornalistas da grande mídia, modificando as cores das cenas captadas por fotógrafos e cinegrafistas. Pois, mesmo com a intervenção da edição, o que se observou de fato foi o contrário. As legendas foram trocadas.

De um lado, as pessoas vestiam tons verdes e amarelos, tinham idades variadas entre crianças e idosos,eram senhoras e senhores sem aparência bélica. Talvez houvesse alguma infiltração de brucutus mal intencionados, mas não escancarados. Uma gente que tem o hábito de se reunir ali nas tardes de domingo, para reclamar da forma como o governo estadual conduz o combate à pandemia. Esse é o grupo que foi descrito como fascista.

Do outro lado, em clara mobilização para o confronto, bandos há muito conhecidos dos paulistas. A horda violenta das maiores torcidas uniformizadas dos times de futebol de São Paulo ameaçava reprisar o que costuma fazer nos estádios e por todo canto da cidade, mesmo quando seus times não estão jogando: brigar entre si, ferir, machucar e, com triste frequência, matar adversários. Estes eram os defensores da democracia, na versão jornalística.

A qualquer pessoa que já passou pelo menos uma semana na cidade não se permite ignorar a natureza criminosa das chamadas torcidas organizadas ou uniformizadas do futebol paulista. Domingo, elas unificaram o verde, o tricolor e o preto e branco de seus times nas roupas negras que escolheram usar “em defesa da democracia”. Vestiram-se de fascistas para atacar alegado fascismo, e dedicaram-se alegremente aos seus folguedos habituais.

Com frequência, em defesa dos profissionais que assinam as mentiras publicadas pela grande mídia, argumenta-se que são trabalhadores cumprindo ordens patronais ou das chefias. Trabalhadores que tentam preservar o emprego. OK! Concordo que quem não quer cumprir ordens indesejáveis deve procurar outro departamento de pessoal para entregar a carteira do trabalho. Até admito que, na minha carreira, tive de engolir e expelir alguns sapos. Mas de ninguém se exige que seja mais realista do que o rei. É possível distorcer a notícia e ludibriar o público com dignidade, diria um cínico amigo meu.

Alguma dúvida sobre a parcialidade da grande mídia? O mesmo fim de semana foi pródigo em evidenciar a vergonheira. Sábado à noite, em Brasília, aconteceu uma deplorável manifestação bolsonarista diante do STF. A TV mostrou, como deveria fazer, as cenas repugnantes da cambada enfurecida (não volumosa, felizmente) vestida de preto, encapuzada e portando tochas

Sobraram, nas descrições “jornalísticas”, comparações com as manifestações dos nazistas alemães, na noite dos longos punhais, e com os supremacistas brancos da Ku Klux Klan norte-americana. O Fantástico fez até um competente trabalho de pesquisa, recuperando imagens dos anos 1930 e 1960, para mostrar a ação desses grupos intolerantes. Tinha algum sentido, apesar da acintosa forçação de barra em que embarcou até o ridículo decano. Além do que, ninguém se deu conta de que os racistas da terra de John Wayne vestem branco.

Mas o detalhe não tem importância. Grave foi o silêncio a respeito de outra manifestação, em sentido contrário, que ocorreu em Curitiba, duas noites depois. Na capital paranaense, jovens saudosos das balbúrdias de 2013 saíram em protesto contra o governo federal. Como de praxe, destruíram a pau e pedra tudo o que encontraram pelo caminho, principalmente as mais vistosas vitrinas.

A novidade foi que, no embalo, nossos antifascistas se depararam com uma bandeira nacional e, lépidos, providenciaram o arriamento. Assim surgiu a fogueira que – no dizer de um emocionado, inspirado, lírico e, desnecessário dizer, militante jornalista amigo meu – iluminou a “festa da democracia”.

Tais fatos edificantes, contudo, não ocorreram para quem se “informa” pela grande mídia. O ato cívico da queima da bandeira foi apagado pelo Grande Irmão e devidamente ”cancelado”, de forma a – que pena! – não poder mais ser denunciado pelo Ministério Público e investigado pela Polícia Federal. Nem dele se ocuparão os zelosos Alexandre e Celso, do STF. Pois, como dizia um falecido jornal, “se a Gazeta Esportiva não deu, ninguém sabe o que aconteceu”.

Adeus, querido!

(Leitura para este tempo de dores e despedidas)

O rosto caiu para o lado contrário da janela e ele se foi sem qualquer outro sinal. Nenhum ruído ou súbito silêncio. Nada. Apenas a falta de movimento sob o lençol. Há tempos que a respiração fraca mal se percebia e não havia lamento. Só o rosto sereno, menos carrancudo, já que os sulcos na testa ampla haviam desaparecido. Ficava mais bonito sem as marcas produzidas pela contração da face, tentativa de compensar as dificuldades de visão e os problemas com as lentes de contato. O esforço havia se tornado desnecessário desde que os olhos, também dispensáveis, se fecharam e assim permaneceram – isso há um mês e meio, um pouco mais –, cumprindo outra etapa do fim.

Foi melhor assim, porque me afligiam suas mudas indagações, quando se fixavam em algum ponto aquém da parede, além do lençol, e em mim principalmente. O passeio eventual das órbitas opacas pelo quarto era, então, o grande acontecimento do dia e me colocava em estado de alerta. Nesses instantes, porque achava que seria necessário entrar em ação ou só para controlar a tristeza, eu falava alguma coisa sem importância sobre o tempo, dava notícias de alguém ou fazia perguntas bobas – quer que abra a persiana? –, sabendo que não haveria respostas e que elas, de toda forma, eram inúteis.

Felizmente, tinham se acabado as inspeções do mundo que lhe restara: o quarto, eu e, vez por outra, um personagem qualquer de branco. Do meu ponto de vista, o quarto e ele, com o horizonte estendido nas conversas de corredor sobre providências que podiam ser adiantadas e nas idas ao restaurante do terceiro andar, para o café seguido do cigarro. No limite, ele e eu, porque nem de cenário servia mais o espaço físico em que nos despedíamos a cada dia. Nas últimas semanas, tampouco isso. Só o tempo passando, das noites para as manhãs, depois as tardes, indiferente à chuva ou ao sol, à claridade do dia e ao silêncio quase absoluto das madrugadas.

Quando aqui chegamos e ainda fazíamos planos para os anos que estavam por vir, tudo atraía a nossa curiosidade. Brincávamos com os controles da cama, observávamos o gotejar dos remédios pelos tubos transparentes, descobríamos do que eram feitas as tardes na televisão. Depois, quando ele parou de andar e se imobilizou na cama, pedia-me que ficasse junto à janela e descrevesse o movimento na rua, divertindo-se com o relato que eu fazia das pessoas que passavam e com as histórias que, a partir delas, eu ia inventando.

Às vezes, invertia o jogo. Ele criava os personagens e eu só tinha que encontrá-los a partir de meu ângulo de visão, fazendo pequenos ajustes quanto à cor de um detalhe qualquer da roupa ou ao corte do cabelo. Se o retoque alterava demais o tipo imaginado – “não me parece tão alto esse seu coronel, senhor, a julgar pelo rápido movimento das perninhas, as quais mal conseguem movê-lo” –, ele fingia enfurecer-se e fazia observações sobre a incapacidade das mulheres de enxergar um pouco mais do que as aparências. Voltavam, então, as antigas provocações, no seu jeito de referir-se a mim falando das mulheres em geral, temendo uma conversa direta que nos levasse afinal ao ponto. A um ponto nunca proposto e ao qual nunca teríamos coragem de chegar.

 

Sempre foi assim e assim foi até o último dia em que nos falamos. Veio depois o tempo em que só eu falava, tentando adivinhar necessidades ou desejos, e em que as janelas foram se fechando, para que a penumbra se antecipasse ao silêncio do quarto. Depois, o olhar também se apagou, tornando indiferentes a claridade e os ruídos e ainda assim me levando a tornar mais discreta a minha presença. Entrava e saía com cuidado, jogava toda a luz sobre o livro e relia os mesmos trechos só para evitar o sobressalto de virar a página. Sentia mais do que observava aquele fim de vida.

Agora, nem isso. E o pior é que a imobilidade do lençol não funcionava como a senha de tudo o que eu tinha programado fazer a partir daquele instante. Só me ocorreu levantar e contemplar, da distância do pé da cama à cabeceira, o rosto querido. Não sei quanto tempo se passou até que a ajudante de enfermagem entrasse – “nossa, moça, meus pêsames” – e eu me afastasse na direção da janela. Para esconder as lágrimas ou dissimular a falta delas. Pelas frestas, olhei a rua pela última vez do ângulo do quarto, quase me vendo passar ao lado das pessoas, novamente como elas. Talvez sendo observada de outra janela, por outra testemunha de outro fim.

Os funcionários entraram e me explicaram que poderia deixar tudo por conta do hospital. Eles acionariam a funerária, avisariam os parentes e amigos, cuidariam do anúncio nos jornais. Eu só precisava ir para casa e esperar, mas demorei-me um pouco rearranjando as roupas dele na pequena valise, há tempos preparada para a volta sem o dono. Ficariam apenas o terno azul marinho com a camisa branca, a gravata de listras em tons bordô, os sapatos e as meias pretas, que ele usaria na despedida.

O blazer cinza guardei para mim, para usá-lo como manta nas noites mais frias, ouvindo as músicas de que ele gostava e lendo os livros que ele me deu.

O bordado eterno da Bela Dolores

(Música de fundo: Dolores, na voz de Lúcio Alves)

Há um ano, no dia 2 de junho, a Bela Dolores foi ao encontro do Bom Fonseca. Partiu serena, quase um mês após completar o centenário, no dia 5 de maio. Seus últimos tempos, a partir dos 95 ou 96 anos, foram de desorientação. Mas nunca esqueceu as músicas da juventude, que cantava com letras incrivelmente intactas. Nem os bordados, tricotados ainda que de mãos vazias.

Ficaram a saudade boa e a lembrança feliz. Ficaram os olhares mudos passeando pela curta paisagem ao redor, as indagações silenciosas, as risadas sapecas, as historinhas ingênuas e maliciosas: o doutor me receitou/um remédio que é bom de tomar/um beijinho antes do almoço/um beijinho depois do jantar.

Sobraram as recordações que guardava para si de tempos melhores, ou nem tanto. Da antiga Xiririca e da mocidade com os pais e os irmãos, à Santos de toda uma vida. A Dolores – que bem poderia ser chamada Emilinha, Marlene, Isaurinha, Carmem e Ângela, exclusivamente nossas – segue cantando e bordando seus paninhos.

Crochê imaginário

Que outras maravilhas tecem as mãos silenciosas,

sem agulha e linha?

Se delas se fizeram encantos, milagres e vidas,

com pés no chão.

Que sonhos percorrem a mente ágil, incansável,

também canções

embaladas nos versos inspirados dos poetas

que tudo cantam?

Que histórias agitam os olhos vivos, mais opacos

quanto mais longe vêem,

posto não repousarem meigos, joias esplêndidas,

em mansos regaços?

Que veste sairá dessa labuta com arte e método,

e será definitivamente sua?

Talvez o derradeiro manto, antes de se tornar inútil

ao anjo que há de vir.

A pauta conjunta da Globo com o Datafolha

Não fosse braço do Grupo Folha, o que já lhe confere o atestado de militante incansável, o DataFolha vem se esmerando na associação ao Jornal Nacional para a produção de “notícias” tendenciosas. Fake News mesmo ou factoides, como queiram. Para muitos, poderia parecer coincidência ou imposição de suposta realidade. Mas não para quem entende um pouco do baralho, como dizia o astuto treinador de futebol Rúbens Minelli. De verdade, quem tem olhos de ver, ouvidos de ouvir e cabeça de pensar logo identifica a associação em um crime que seus autores consideram perfeito. A vítima é a opinião pública e o delito, a lesa informação, a distorção do noticiário.

Vejam como funciona. Durante uma semana, sem descuidar de outras pedras disponíveis para atacar o governo, o principal jornalístico da TV BBB concentra a fuzilaria em determinados temas. Por exemplo: a denúncia do ex-ministro Sérgio Moro sobre suposta tentativa do presidente de interferir na Polícia Federal. Não há uma mísera prova a corroborar a afirmação do demissionário, que chega a se desdizer no depoimento à polícia (Bolsonaro não cometeu crime, admitiu quando obrigado a não mentir). Mas a emissora mantém o assunto em evidência durante dias, sem apresentar um fato novo. Apenas repete falas e cenas que nada comprovam. São reprises de opiniões oportunistas dos loucos pela chance da aparecer em rede nacional.

Logo surge a razão de tanto “vale a pena ver de novo”. O Datafolha produz nova pesquisa e nela embute a pergunta: quem fala a verdade: Moro ou Bolsonaro? Tabelinha a la Pelé-Coutinho, só que suja e feia, e não bonita e limpa, como as alvas camisas usadas pelos craques santistas. Uma vergonheira.

Outro exemplo. Noite e noites, o jornal da TV Zorra Total ataca o programa de ajuda do governo federal às pessoas mais prejudicadas pela pandemia. Encontra todo tipo de erros na definição dos beneficiários (sempre, claro, ouvindo aqueles “especialistas” que tudo sabem criticar, abstraídos da circunstância de que lidamos com uma situação absolutamente inédita e desafiadora, e incapazes de sugerir alguma solução) e vê falhas na distribuição dos recursos destinados ao programa. São filas enormes diante das agências da Caixa, são atrasos injustificáveis na liberação da ajuda, são queixas de gente desesperada por receber aquele mínimo tão essencial.

No mesmo tom, critica a demora na liberação do amparo aos pequenos empreendedores, que em grande parte fecharam seus negócios, incapazes de se sustentar sem entradas no caixa. Em nenhum momento o noticiário lembrou tratar-se de um fenômeno mundial, que praticamente nenhum governo conseguiu encarar com sucesso. Seria, na forma como foi apresentada, mais uma demonstração de incompetência do governo. Incapaz de enfrentar o covid-19, bem como ninguém mais em todo o planeta (aliás, nem a tal ciência, vale sempre a pena lembrar), nossas autoridades federais não conseguem tocar em situação de guerra algo tão simples como uma economia em frangalhos, depauperada antes pela corrupção do lulopetismo.

Chega a nova semana e o instituto que previu a vitória petista em 2018 faz a parte dele e tira do forno outra pesquisa de opinião feita pro jornal dos Trapalhões (já notaram como toda as noites os apresentadores são obrigados a pedir desculpas pelas falsas informações mais evidentes?). E, entre dezenas de perguntas cabíveis ou não feitas por telefone a uma amostragem ridícula de brasileiros, lá estão: Qual a sua avaliação da economia durante a pandemia? O que acha do desempenho do governo na área econômica?

Sou incapaz de afirmar de que lado partem as ideias. Se é a TV que propõe ao Datafolha os temas que devem entrar no questionário ou se é o inverso: “Vamos incluir na próxima pesquisa tais assuntos. Preparem o terreno”. Pode ser até que a pauta seja discutida em conjunto, o que é mais provável. A única certeza é que a combinação existe, e é safada.

Não por acaso, numa semana em que se intensificou o embate entre os três poderes (dois contra um, mais exatamente), a pesquisa ouviu a opinião da população, melhor dizendo, de seu ridículo universo de 2.069 pessoas, sobre o prestígio do executivo e do judiciário. Possibilitou a manchete revelando que ambos cresceram, enquanto o do presidente caiu. Daí a perguntar também sobre o impeachment, inclusive a hipótese de renúncia, nunca sequer especulada, foi um passo. O problema para a dupla de manipuladores de informações (atenção, Alexandre do STF: nada a fazer sobre isso?) é que nem sempre dá o resultado esperando, como aconteceu nos dois casos.

Nenhum contratempo, porém, breca essa gente que gosta de brincar com os brasileiros. O Datafolha pesquisou, e o jornal da Zorra Total divulgou, a avaliação dos governadores pela população dos respectivos estados. Depois, juntou tudo, bateu no liquidificador e deu uma nota para o conjunto. Mesmo em queda, eles seriam aprovados por 50%, bem acima do presidente Bolsonaro (de acordo com essa pesquisa). A empulhação é inacreditável.

Como somar a avaliação de pernambucanos, amazonenses, mineiros, cariocas, catarinense, paulistas etc., tirar a média e anunciar daí um resultado comum? Alguém acredita que Dória e Witzel, apenas dois exemplos, são admirados por metade dos cidadãos dos respectivos estados? É o que Folha e Globo querem nos fazer crer, ao propor tamanha estultícia. Seria como a temperatura média do corpo colocado metade dentro, metade fora do forno.

Se são capazes de tal falsidade, haverá alguma verdade no restante do noticiário que transmitem a leitores e telespectadores?

Toda semana, a esquerda elege um mito. Alexandre é o da vez

O atual ministro do STF, ex-advogado do PCC, dá forte contribuição aos “cancelamentos” determinados pela militância resistente

A nova prática de intolerância da inteligência esquerdista chama-se “cancelamento”. O nome foi dado pela própria turminha. Na impossibilidade prática de utilizar o paredón, justiçamento que invejam nos governos ideologicamente afinados, e atentos ao risco de utilizar contra adversários políticos o mesmo cala-boca usado contra o companheiro Celso Daniel, adotam esta forma de exterminar pessoas: a destruição moral via manifestos assinados pelos mesmos de sempre e os ataques sem dó nem piedade nas mídias sociais.

É tiro e queda, como literalmente aconteceu recentemente com a atriz Regina Duarte e, nestes dias, com o professor Pedro Almeida, curador do Prêmio Jabuti, cuja demissão foi aceita pela Câmara Brasileira do Livro, pressionada por um abaixo-assinado de auto intitulados intelectuais. Ambos cometeram “crimes” inaceitáveis. Regina apoiou a eleição do atual presidente e ocupou o cargo de secretária de cultura, num governo que acabou com os cabides de emprego na área e com a farta distribuição de recursos públicos para “artistas” incapazes de se sustentar com o próprio trabalho. E/ou saudosos das tetas federais.

A atriz era no máximo tão incompetente quanto seus antecessores petistas no Ministério, com a vantagem de não ter praticado qualquer ato de corrupção. Foi violentamente atacada inclusive por uma ex-colega, atriz opaca, de brilho incomparavelmente menor, defensora do isolamento num belo apartamento, sustentado por pensão vitalícia que lhe foi deixada pelo pai e paga pelo nosso dinheiro. Para manter a moleza, bastou não se casar com qualquer dos maridos que teve. À fraude vergonhosa junta a mais inacreditável cara de pau.

Já o pobre Pedro cometeu a insensatez de criticar a política de isolamento no combate à pandemia e ainda colocar essa opinião em espaço pessoal na internet. A reação foi instantânea: do sábado da publicação do post até a segunda-feira seguinte, ou seja, em 48 horas, já estava soterrado por uma avalanche de impropérios. Deu até tempo de circular um alegado abaixo-assinado, capaz de reunir supostas oito mil defensores do fuzilamento. O que dá a medida da agilidade deles quando se trata de maltratar alguém.

Não adiantou chorar, espernear, ajoelhar-se e jurar que nunca mais voltaria a praticar tal heresia, então já devidamente apagada do blog, e humilhar-se até além do limite. Em vão, declarou-se gay e tão de esquerda quanto seus algozes. Na quarta, o professor já havia sido levado a pedir demissão, prontamente aceita pela direção da CBL. Hoje, quem é Pedro Almeida? Ele está “cancelado”.

A prática recebe agora a colaboração militante do STF, na figura execrável do ministro Alexandre de Moraes, ex-advogado da organização criminosa PCC, a mais sanguinária entre as que controlam os presídios brasileiros. Na sanha de virar protagonista da disputa política que se desenrola no país, e levar junto a honra da corte, o ministro indicado por Temer (Alexandre, como é chamado por Moro) declara guerra ao governo e expõe os apoiadores de Bolsonaro aos abutres. Como se a opção política dessa turma fosse mais condenável do que a dos cúmplices das falcatruas do lulopetismo: as maiores empreiteiras do país, a JBS e seus dirigentes bandidos, o grupo malandro de Eike Batista e as “empresas campeãs”, escolhidas por Lula para “carregar” o país, em troca dos mais escandalosos benefícios financeiros.

Não por acaso, já corre pelo facebook e outras mídias eletrônicas uma lista de companhias que devem ser boicotadas pelos consumidores, na opinião dos “canceladores”. Ou seja: o ministro tenta matar e a esquerda tenta esfolar. Não pode ser só a estupidez que junta e mobiliza essa cambada!

Uma corte que não deixará saudade

Doze deuses habitavam o Olimpo grego. O nosso tem onze 

Não se sabe de que escritura consta que nosso triste stf é um olimpo. Se o disparate existe, só pode ser em bíblia apócrifa. Mas os companheiros de Toffoli não só teriam lido tal heresia, como acreditam nela. Julgam-se os próprios deuses. Acham-se infalíveis, posto que situados acima dos cidadãos comuns, blindados de críticas, mesmo de meras discordâncias.

Nas últimas semanas, pela voz excessiva e enfadonha do insignificante Celso de Mello (quem te conhece que te avalie, não é Saulo Ramos?) e pelos arroubos de Alexandre de Moraes (teu passado te condena), a corte deu de afrontar o executivo. Não só desautoriza decisões de atribuição constitucional do governo federal, como decide investigar arbitrariamente o presidente e seus auxiliares.

Os “crimes”, cuja procura é suscitada por denúncias não sustentadas, típicas do jogo da oposição, mas que são acolhidas pelo tribunal em céleres decisões monocráticas, não valem o tempo gasto por essa estrutura caríssima e perdulária sustentada pelo contribuinte. Na maioria, de acordo com a própria justificativa do relator do processo, é tentativa de atropelar a lei e criminalizar opinião.

Diante da confrontação descabida, nem é preciso questionar que propósito anima o judiciário. Sem a menor dúvida, as togas afinal unem-se à resistência desatinada, à negação do resultado de uma eleição legítima e à não dissimulada tentativa de golpe político. Há clara busca da ruptura institucional, desatenta às consequências que pode causar ao país, já tão devastado pela corrupção e, no momento, pela pandemia.

Tal destemor dos ministros só pode basear-se na crença da força de uma oposição barulhenta mas pouco efetiva, na sensação de enfraquecimento do presidente (transmitida pelos mesmos institutos de pesquisa que, no segundo turno de 2018, previram a vitória petista) e, acima de tudo, no poder da grande mídia, TV Globo à frente.

Tenho a impressão de que nunca, pelo menos a partir do momento em que as sessões da corte passaram a receber cobertura mais intensa da televisão, notadamente desde o julgamento do mensalão de Lula, nunca tivemos um STF tão medíocre, no pior sentido. Um a um, a começar do lamentável decano, nenhum de seus onze integrantes deixará o nome marcado de forma positiva na história da magistratura nacional.

São todos a face tenebrosa de seus criadores, aqueles presidentes que os nomearam e cujos governos conseguiram a façanha de destruir em três décadas os sonhos inspirados pela redemocratização do país.

Fim de namoro

Deve ser complicado namorar nesta era da comunicação permanente. Digo deve ser porque sou de outro tempo. Vejam só! Um amigo pediu pra namorada programar o celular novo. Foi sua desgraça. O cara viajava muito, sempre nos fins de semana, e deu à menina, sem querer, a oportunidade de monitorá-lo onde quer que estivesse.

Na primeira vez, numa cidade do sul, o espião mostrou que o amado estava a algumas quadras do hotel em que, cara de pau, dizia dormir o sono dos justos. Semanas depois, no Nordeste, estava no hotel, mas não naquele que a namorada reservara para ele. Estava em outro, justo o que hospedava uma companheira de trabalho, aquela assanhada!

Não há mais privacidade. Os namorados, quando não moram juntos, vão dormir falando no celular, trocando mensagens no zapzap e é assim que começam o dia, na manhã seguinte. Em uma semana, conversam mais do que muito casal em toda a vida. E não só conversam. Quase trepam pelo smart, mesmo que tenham saído do motel há não mais do que meia hora. “Estou gostosa, bem?”. “Quer me ver tomando banho, mor?”

Eu só conheci o quarto de minhas namoradinhas depois dos amassos regulamentares por todos os cantos da casa. Assim mesmo, em ocasiões especiais, como a morte da avó ou de uma tia querida, o piripaque que levou subitamente o sogrão ao hospital, o acidente com o irmãozinho mais novo na escola. Nessas oportunidades, a vigilância abrandava e, às vezes, ficávamos sozinhos tomando conta da casa e trocando carícias com a cara mais triste do mundo.

Com a Lindinha, não tive qualquer chance. Na verdade, nunca entrei na casa dela. Embora fôssemos colegas de classe, tínhamos um namoro de fim de semana. Ninguém sabia na escola. Começou no fim do segundo ano do colegial. Todo sábado e domingo à noite eu a esperava no ponto do bonde em frente ao Atlântico Hotel, no Gonzaga. Ela chegava com as duas irmãs e os namorados.

Dali, cada casal seguia para seu próprio programa, que deveria ter a duração de uma sessão de cinema. A sessão das 20, que terminava às 22 horas. No máximo dez minutos depois disso, eu devolvia Lindinha para as irmãs no mesmo ponto de bonde. No domingo, a rotina se repetia, e era conveniente para mim, pois em seguida encontrava os amigos na calçada em frente e continuava a noitada.

Funcionou bem até quando as aulas terminaram e vieram as férias e o verão. Eu não tinha telefone em casa e nem sabia o número da casa dela. Mas não falhava. Toda noite de sábado e domingo nos encontrávamos no lugar de sempre e eu dedicava umas duas horas e meia ao namoro, sem descuidar dos amigos, com os quais estudava, jogava vôlei na praia, batia bola e tomava cerveja toda noite.

Até que veio o carnaval. Esquecemos das mudanças que os desfiles provocavam no itinerário dos bondes e não combinamos um plano B. Esperei Lindinha na frente do hotel, mas não havia bonde. A avenida da praia estava interditada. O desencontro acabou com o namoro não só naquele fim de semana e nos seguintes. O carnaval passou, o verão acabou e o namoro também.

Como será nosso admirável mundo novo?

Que o mundo, as pessoas e as sociedades serão diferentes do que se tem até agora parece fora de dúvida. Os otimistas acreditam na prevalência do bem. Teríamos aprendido que só a solidariedade, tal como foi exercida nos últimos meses até pelos bancos, vejam só, nos levará a uma vida melhor e em paz com a consciência. A humanidade, enfim, se encontrará e reduzirá as injustiças. Dará atenção ao sofrimento dos desvalidos.

Bonito! Mas os pessimistas acham, pelo contrário, que o egoísmo se exacerbará. Desde as cavernas, o homem defende o seu lado, na base do este porrete é meu, e será ainda pior daqui para a frente. A maldade às vezes se recolhe diante de ameaças comuns, mas apenas hiberna no fundo dos corações. Aquecida pela ausência de medo, voltara mais forte.

É evidente que a profundidade da mudança depende da duração da pandemia e dos estragos que provocará. Quanto mais perdurar, sem reposta eficaz da ciência – por enquanto tão surda à invocação dos defensores das mais desencontradas medidas de enfrentamento e tão perdida quanto os governantes –, mais profunda será a transformação.

Para melhor? Para pior? Não me arrisco a responder a indagação tão transcendental. Mas, sem aderir ao pessimismo, penso que as pessoas tenderão a buscar a autossuficiência, pelo menos face às necessidades corriqueiras, como a alimentação, o vestuário e a higiene pessoal, por exemplo. O homework inclui muito homemade, e ambos podem ter vindo para ficar e balizar o novo cotidiano em gestação.

Por aqui, parte dos 30% que podem se dar ao luxo de aderir às propostas de alguns governadores e obedecer gostosamente ao “fique em casa” (desde que, é claro, os outros 70% lhes garantam comida boa, lazer doméstico e roupa perfumada) viram aflorar talentos insuspeitados. Quem nunca colocou água pra ferver e tem certeza de que o cafezinho vem das máquinas nespresso, orgulha-se agora de preparar crocantes pães, deliciosos bolos, maravilhosos risotos. São máster chefes das galáxias.

Há até quem, no afã de confeccionar as próprias máscaras, no início escassas, descobriu os mistérios da costura. Não fazem feio na produção de pequenas peças de roupa e, neste exato momento, ganham confiança para abrir uma confecção. Outros avançam na alquimia e, de tanto usar e cheirar álcool 70º, arriscam a mistura com algumas essências e consideram satisfatório o resultado. Na persistência, periga descobrirem afinal a tão esperada vacina.

Menos sofisticados, mas de aplicação mais prática, surgem no recesso de milhares de lares brasileiros milhares de novos barbeiros, manicures, maquiadores e cabeleireiros. Pois, que me desculpem os muito confinados, beleza é fundamental. E porque hoje sábado, ou véspera de feriado, para essa gente.

Nem as ministras e os ministros do STF abrem mão de melenas bem penteadas e de bigodes aparados na medida certa, como se vê em suas aparições diárias na TV. O que lança no ar uma questão intrigante. Se não encontraram solução caseira, estariam se valendo dos fígaros contratados pela corte para atender suas necessidades do dia a dia? Então, aquelas sessões remotas do colegiado presidido pelo sempre engomado Toffoli seriam só encenação dos queridinhos do Weintraub? Que coisa!

Mas aí saio do tema deste texto. O que eu imagino é que a moda do homemake, o velho feito em casa, a produção caseira, a solução própria, pode permanecer além da pandemia, tanto quanto o trabalho a distância se tornará mais regra do que exceção. Alguns amigos juram que nunca mais entrarão em um restaurante, do mais estrelado ao trivial quilão. Pra quê, se o meu espaguete ao vôngole dá de mil no deles? Se a rabada com polenta da patroa não tem concorrência?

Pois é? Quem irá se dispor a marcar hora no salão, para fazer o que tem em casa com mais conforto e carinho? A segunda onda da crise pode ser bem pior!