Ela nasceu em 5 de maio de 1919, em Xiririca, que virou Eldorado Paulista, anos depois. Nasceu Maria das Dores e logo virou Dolores. Domingo agora, completará 100 anos de idade. Na foto abaixo está a capa do DVD que fiz para ela, juntando 14 das canções que ela ainda canta. Na maioria marchinhas da virada dos anos 1930 para 1940, época em que casou e virou Fonseca. O vídeo está disponível no youtube. Há dois anos, fiz uns versos para ela. Estão logo depois da foto.
Dolores
Que bênção de mãe!
A sua bênção, mãe.
Deus te abençoe, meu filho…
Vá com cuidado, tenha atenção!
Não tome chuva.
Você já fez a lição?
Não volte tarde demais.
Porque eu não durmo.
E, quando acordada,
O pai não sossega jamais.
Que sonho de mãe!
Nenhuma melhor do que a minha!
Ou mais linda! De certo que não!
De certo que igual
Nem daqui mil anos.
Pois Xiririca não tem mais,
E o molde afundou no Ribeira,
Uma padroeira inteira.
De cabeça no lugar,
Hoje impossível de achar.
Que perfeição de mãe!
Que mais podia ter feito
Que deixou por fazer?
Das roupas de tecido barato,
Costuradas na singer
Que lhe arruinou as pernas,
Às tortas domingueiras.
De camarão ou uva preta,
Bem ao gosto do marido.
Falo da cor da uva, mãe!
Que orgulho de mãe!
Teria sido não menos que rainha,
Carmem, marlene, emilinha,
E preferiu ser ângela só minha.
Se a ouvissem, não se pediria
Mortadela com ene no meio,
Recheio indevido, alça sem mala?
O português que bem se fala
Ficou entre as tábuas do Marapé,
Suas cercas, seu chalé.
Que emoção, mãe!
Mesmo que hoje me desconheça,
Que não me chame Marcão,
Que pergunte “quem é o cara?”,
Tão logo me afasto.
Confusão dos tempos felizes,
No meio de tanto irmão,
Em que fui Nélson, Zinho, Albano, Horácio,
Paulo, Sílvio e mesmo Márcio, Marisa e Tzi.
Quem mudou foi eu. Você, não!
(São Paulo, 5 de maio de 2017)