A pauta conjunta da Globo com o Datafolha

Não fosse braço do Grupo Folha, o que já lhe confere o atestado de militante incansável, o DataFolha vem se esmerando na associação ao Jornal Nacional para a produção de “notícias” tendenciosas. Fake News mesmo ou factoides, como queiram. Para muitos, poderia parecer coincidência ou imposição de suposta realidade. Mas não para quem entende um pouco do baralho, como dizia o astuto treinador de futebol Rúbens Minelli. De verdade, quem tem olhos de ver, ouvidos de ouvir e cabeça de pensar logo identifica a associação em um crime que seus autores consideram perfeito. A vítima é a opinião pública e o delito, a lesa informação, a distorção do noticiário.

Vejam como funciona. Durante uma semana, sem descuidar de outras pedras disponíveis para atacar o governo, o principal jornalístico da TV BBB concentra a fuzilaria em determinados temas. Por exemplo: a denúncia do ex-ministro Sérgio Moro sobre suposta tentativa do presidente de interferir na Polícia Federal. Não há uma mísera prova a corroborar a afirmação do demissionário, que chega a se desdizer no depoimento à polícia (Bolsonaro não cometeu crime, admitiu quando obrigado a não mentir). Mas a emissora mantém o assunto em evidência durante dias, sem apresentar um fato novo. Apenas repete falas e cenas que nada comprovam. São reprises de opiniões oportunistas dos loucos pela chance da aparecer em rede nacional.

Logo surge a razão de tanto “vale a pena ver de novo”. O Datafolha produz nova pesquisa e nela embute a pergunta: quem fala a verdade: Moro ou Bolsonaro? Tabelinha a la Pelé-Coutinho, só que suja e feia, e não bonita e limpa, como as alvas camisas usadas pelos craques santistas. Uma vergonheira.

Outro exemplo. Noite e noites, o jornal da TV Zorra Total ataca o programa de ajuda do governo federal às pessoas mais prejudicadas pela pandemia. Encontra todo tipo de erros na definição dos beneficiários (sempre, claro, ouvindo aqueles “especialistas” que tudo sabem criticar, abstraídos da circunstância de que lidamos com uma situação absolutamente inédita e desafiadora, e incapazes de sugerir alguma solução) e vê falhas na distribuição dos recursos destinados ao programa. São filas enormes diante das agências da Caixa, são atrasos injustificáveis na liberação da ajuda, são queixas de gente desesperada por receber aquele mínimo tão essencial.

No mesmo tom, critica a demora na liberação do amparo aos pequenos empreendedores, que em grande parte fecharam seus negócios, incapazes de se sustentar sem entradas no caixa. Em nenhum momento o noticiário lembrou tratar-se de um fenômeno mundial, que praticamente nenhum governo conseguiu encarar com sucesso. Seria, na forma como foi apresentada, mais uma demonstração de incompetência do governo. Incapaz de enfrentar o covid-19, bem como ninguém mais em todo o planeta (aliás, nem a tal ciência, vale sempre a pena lembrar), nossas autoridades federais não conseguem tocar em situação de guerra algo tão simples como uma economia em frangalhos, depauperada antes pela corrupção do lulopetismo.

Chega a nova semana e o instituto que previu a vitória petista em 2018 faz a parte dele e tira do forno outra pesquisa de opinião feita pro jornal dos Trapalhões (já notaram como toda as noites os apresentadores são obrigados a pedir desculpas pelas falsas informações mais evidentes?). E, entre dezenas de perguntas cabíveis ou não feitas por telefone a uma amostragem ridícula de brasileiros, lá estão: Qual a sua avaliação da economia durante a pandemia? O que acha do desempenho do governo na área econômica?

Sou incapaz de afirmar de que lado partem as ideias. Se é a TV que propõe ao Datafolha os temas que devem entrar no questionário ou se é o inverso: “Vamos incluir na próxima pesquisa tais assuntos. Preparem o terreno”. Pode ser até que a pauta seja discutida em conjunto, o que é mais provável. A única certeza é que a combinação existe, e é safada.

Não por acaso, numa semana em que se intensificou o embate entre os três poderes (dois contra um, mais exatamente), a pesquisa ouviu a opinião da população, melhor dizendo, de seu ridículo universo de 2.069 pessoas, sobre o prestígio do executivo e do judiciário. Possibilitou a manchete revelando que ambos cresceram, enquanto o do presidente caiu. Daí a perguntar também sobre o impeachment, inclusive a hipótese de renúncia, nunca sequer especulada, foi um passo. O problema para a dupla de manipuladores de informações (atenção, Alexandre do STF: nada a fazer sobre isso?) é que nem sempre dá o resultado esperando, como aconteceu nos dois casos.

Nenhum contratempo, porém, breca essa gente que gosta de brincar com os brasileiros. O Datafolha pesquisou, e o jornal da Zorra Total divulgou, a avaliação dos governadores pela população dos respectivos estados. Depois, juntou tudo, bateu no liquidificador e deu uma nota para o conjunto. Mesmo em queda, eles seriam aprovados por 50%, bem acima do presidente Bolsonaro (de acordo com essa pesquisa). A empulhação é inacreditável.

Como somar a avaliação de pernambucanos, amazonenses, mineiros, cariocas, catarinense, paulistas etc., tirar a média e anunciar daí um resultado comum? Alguém acredita que Dória e Witzel, apenas dois exemplos, são admirados por metade dos cidadãos dos respectivos estados? É o que Folha e Globo querem nos fazer crer, ao propor tamanha estultícia. Seria como a temperatura média do corpo colocado metade dentro, metade fora do forno.

Se são capazes de tal falsidade, haverá alguma verdade no restante do noticiário que transmitem a leitores e telespectadores?

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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