Mariana do meu coração

Com o pai coruja e, aos 15, com as avós

Nesta segunda, 15 de junho, minha Mariana faz aniversário. Não estarei com ela, mas ela está comigo, sempre. Na minha mente, no meu coração, em todos os pontos do meu corpo. A Mariana não é só a filha abençoada que Deus fez com o maior capricho. A Mariana é uma pessoa inteligente, boa e talentosa. Formidável, como dizia meu pai, o avô que ela não conheceu.

Mariana toca há anos um movimento solidário em favor de um asilo de idosos muito carentes, no extremo sul da capital paulista. Começou sozinha, reunindo doações dentro da família e entre os amigos. Mas, como nunca deixa nada pela metade, logo a ação ganhou força e atraiu voluntários também movidos pelo amor ao próximo. Este ano, ampliou-se com a participação ainda tímida de algumas empresas. E assim, mesmo na pandemia, os “velhinhos” dela não ficaram abandonados.

          O mundo nos olhos e uma paixão na Vila

Mas essa é só uma parte da minha Mariana. As outras partes, todas maravilhosas, feitas de alma forte, paixão e alegria de viver, são nossas. Dos seus pais, tios, primos e sobrinhos, irmãs e irmãos do coração, além das muitas pessoas queridas que reuniu e manteve ao longo de sua vidinha. Hoje, acredito, todos gostariam de dar um beijo nela. Terá de ser virtual, mas com valor igual.

Amo muito essa menina. E tenho um enorme orgulho de ser pai dela.

Indaiá, a Santos do poeta

Martins Fontes

Não se te apague da memória
Peço-te, flor,
O ingênuo sonho, a doce história
Do nosso amor.

Juro que nunca, em toda a vida,
A esquecerei.
Foste a mais bela e a mais querida
Mulher que amei.

Lembras-te? Dentre pitangueiras,
Dentre araçás,
Roseiras bravas e murteiras,
E manacás.

O nosso rancho se escondia,
Sobre o jundu,
Na ensolarada calmaria
Do Indaiaçu.

Ao longe, a praia, ampla e discreta,
Branca também.
Pelo mistério da hora quieta,
Ninguém, ninguém.

Tudo encantava a nossa vista,
Com o claro tom.
Tudo tão simples, tão santista,
Isto é, tão bom!

De légua em légua, umas canoas,
Sob os sapés,
Tendo, nas popas e nas proas,
Os picarés.

De malhas finas e compridas,
Em aranhol,
Redes de arrasto, distendidas,
Secando ao sol.

Bancos de pedra… Dos dois lados,
Frescos frutais,
Cheios de jambos perfumados,
E sem rivais.

Era abundante, nas encostas,
O cambucá.
E abios de que tanto gostas,
Só no Indaiá!

Coberta de hera, no caminho,
Jardim-vergel,
O nosso pouso, o nosso ninho
Caramanchel.

Sonhava a nossa intimidade,
Florindo, então!
Ah! que lembrança, ai, que saudade
No coração!

Foi nesta enseada predileta
Cheia de ingá,
Que um pescador, um grande poeta
Fez o Indaiá.

Gratos, recordas-te? – em surdina,
Líamos, flor,
Essa encantante e feminina
Rosa de Amor.

E repousavas nos meus braços,
Quase a dormir…
E me faziam teus cansaços
Sempre sorrir…

Nada turbava a doce calma
Desse ardor,
Que era, por nunca haver viv’alma,
Ainda melhor.

Semeando estrelas pela areia,
Vidrilhos no ar,
Balão aceso, a lua cheia
Prateava o mar.

Oh luar das nossas madrugadas,
Dizei, dizei,
Aos noivos, como às namoradas,
Quanto eu chorei!

E tu partiste, e tu partiste,
Tudo findou.
Um remador bondoso e triste
É o que hoje sou.

Só vinte dias tu ficaste
Comigo aqui,
Porém, depois que te ausentaste,
Não mais te vi.

Desencantado, ou sem engano
Consolador,
As horas passo olhando o oceano:
Contemplo a dor.

Martins Fontes nasceu e morreu em Santos (23 de junho de 1884, 25 de junho de 1937).