Caro Zito,
Você, mais do que ninguém, sabe que o Santos é universal. Nas nossas eleições, vem gente de todo lugar. Do Mato Grosso, do Norte do Paraná, do Nordeste, de Brasília. Alguns nem podem votar. Vêm para viver um momento importante do clube. Outros, nos mais distantes pontos do mundo, ficam na internet, ávidos por notícias. É impressionante o que esse time faz com a gente, não importando se santistas recentes ou antigos, de perto ou de longe.
É por isso que eu não me conformo quando vejo santista que se considera mais santista do que os outros só porque, além de tudo, teve a sorte de nascer cercado pela moldura maravilhosa das praias e dos morros santistas. Esse santista, como eu e os demais filhos da Bela Dolores e do Bom Fonseca, tem o privilégio de ser santista em todos os sentidos, o que inclui as mais nobres marcas do caráter e molda nossa personalidade.
Em outras palavras, tivemos a felicidade de nascer nesse lugar bendito e no momento certo. Justo a tempo de ver se cumprir aqui o desígnio divino. O berço de Bartolomeu de Gusmão, dos sonhos libertários dos Quilombos, dos irmãos Andrada, dos movimentos sindicais, da arte de Wega Nery, dos sonhos de Pagu, da inspiração de Martins Fontes e Vicente de Carvalho, da genialidade de Plínio Marcos e do maestro Gilberto Mendes – esse berço embalaria também o maior espetáculo da Terra. Como não ser duplamente santista em tais condições?
E, além de tudo isso, Santos, para quem não sabe, é também a terra da liberdade e da caridade. Pois é porto, símbolo maior da hospitalidade da nossa gente. O que quero dizer, Zito, é que foi muito fácil, para nós, tão generosamente abençoados, sucumbirmos de corpo e alma a essa atração mágica, a essa paixão desenfreada pelo Peixe. Não temos méritos. Apenas tiramos o bilhete premiado.
Já o Santos que você ajudou a construir atraiu para a nossa cidade milhões de corações. É um incalculável capital de amor, força e competência, que alguns insensatos desprezam. Mas não se preocupe, Capitão. O nosso Santos é suficientemente grande para sobreviver a essa gente.
(fim)