Não havia santista tranquilo no fim da tarde do domingo, 12 de fevereiro de 2006. Ainda em formação, o Santos de novo de Vanderlei Luxemburgo ia enfrentar o Corinthians, suposto campeão brasileiro do ano anterior, que já batia bola no Morumbi com Tevez, Nilmar e o recém-contratado Ricardinho, ex-Peixe.
O adversário era amplamente favorito. Além da base campeã, seguia contando com o dinheiro da nebulosa MSI e com a simpatia do STJD, dos árbitros, da CBF e da mídia. Seu título mais recente resultara justamente da inédita união dessas forças.
Entre os 18 jogadores santistas convocados por Luxemburgo estava Geílson. No banco. O jovem atacante estreara dois anos antes no time B, campeão da Copa Federação Paulista de Futebol e, no ano seguinte, foi promovido ao grupo principal pelo técnico Gallo. Em 2006, continuava tentando conquistar a confiança dos treinadores e da torcida.
Nem se precisa falar aqui de seres quase mitológicos, como Feitiço, Pagão e Coutinho. O Santos teve dezenas de centroavantes melhores do que o esforçado Geílson no escalão intermediário em que se encaixam, por exemplo, Paulinho McLaren e Guga.
O garoto, entretanto, embora marcasse pouco, tinha uma característica especial: fazia gols importantes. Meses antes, no dia 26 de outubro, ele abriu o marcador da vitória de 3 a 1 sobre o Vasco, no estádio de São Januário. Gol histórico, o 11.000º do Santos, único clube no mundo a atingir tal marca.
Mas agora, com a bola rolando, não eram boas as perspectivas de Geílson. Se tivesse de ir para o jogo, seria lá pela metade do segundo tempo, em condições adversas. Caso contrário, se o Peixe estivesse em vantagem, o técnico reforçaria a defesa e tentaria garantir o resultado. Ele continuaria no banco.
Tudo mudou, porém, aos 15 minutos, quando o centroavante Reinaldo se machucou. Geílson foi chamado por Luxemburgo e iniciou uma batalha desigual contra a defesa adversária, já que o jogo se concentrava no campo santista e a bola quase não chegava. Foi assim até o fim do primeiro tempo e assim prosseguiu durante quase todo o segundo.
Perto dos 30 minutos finais, o que era ruim piorou. Num escanteio, nosso zagueiro Luís Alberto foi para a área corintiana e sofreu pênalti não marcado pelo juiz. O zagueiro reclamou e foi expulso de campo. O Santos fechou-se ainda mais, já considerando o empate de 0 a 0 um grande lucro. Mas o predestinado Geílson estava em campo e reescreveu a história.
Foi aos 33 minutos. O volante Fabinho desarmou o ataque adversário e deu um chutão. A bola cruzou a linha central do gramado correndo junto à lateral direita. Geílson chegou antes dos zagueiros e, com um corte para o meio, driblou Betão e deixou Marinho para trás. Livre de marcação, foi até a frente da área e bateu de pé esquerdo. Preciso, bem no canto. Inalcançável para o goleiro Marcelo. Santos 1 a 0, placar final.
O momento mágico de Geílson lavou a alma da torcida. O garoto ainda marcaria mais um gol, o da vitória contra o Rio Branco, contribuindo com seis pontos para a reconquista do campeonato paulista. No total, em duas temporadas, disputou 51 jogos com a camisa do Santos e fez 14 gols. Ainda em 2006, sofreu uma contusão no joelho e, após meses de recuperação, foi emprestado ao Al Hasen, da Arábia Saudita. Na volta, foi para o Atlético-PR.