Giovanni dá o bote, pobre zagueiro!

Há tantos lances inesquecíveis, num tempo que recua das oito pedaladas de Robinho até o chute cruzado de Dorval, que vence Valdir de Moraes e derrota o Palmeiras no domingo perdido da década de 60, na Vila lotada. Há tantos momentos mágicos em cada tabelinha de Pelé e Coutinho, nas bombas do Pepe, nas sutilezas do Pagão e na astúcia de Giovanni preparando o bote sobre o incauto zagueiro fluminense. Todas essas jogadas resultarão em gols, muitos deles decisivos, e serão contadas e recontadas ao gosto do narrador. Eu, por exemplo, sou capaz de descer da tribuna de imprensa do Pacaembu, naquela tarde de dezembro de 1995, para me colocar ora na pele do infeliz tricolor ora na mente do nosso outro 10 de ouro.

Como o tricolor Alê, corro em direção à bola que rola macia pela grama, na zona morta do campo, em direção à linha de fundo. Corro, olho para a direita e vejo um único adversário, lento e distante, perto da linha central. Trato de chegar rápido só para garantir o domínio da bola com tempo e espaço para sair jogando. Pronto. Tudo sob controle.

Mas agora sou Giovanni e me aproximo ainda sem pressa. Quero que o adversário me veja e pense que vou cercá-lo de longe, inofensivo.

Volto a ser Alê. Verifico mais uma vez se o santista insiste ou desiste. Beleza. O cara só continua na minha direção por dever de ofício. Desse jeito, não chegará nunca. Dá pra sair pelo meio, pro lado do pé bom, e decidir com calma o que fazer.

De novo Giovanni, acelero as passadas. O infeliz vai me olhar de novo, girando a cabeça sobre o ombro esquerdo, mas será tarde. Já estarei passando pela direita e roubando-lhe a bola. Ele ainda tentará entender o que aconteceu, quando eu estiver na área, livre para o passe ou para a finalização. Fim do dilema: Camanducaia se apresenta. É rolar para trás e correr para os abraços.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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