Dos passeios com Nina e Chico

A guarda distraída e o ladrãozinho escalando o prédio, disfarçado de Papai Noel.

 

Numa esquina da cidade de São Paulo, o cidadão tenta atravessar para o outro lado da rua, usando a faixa de pedestre. Mas não dá tempo. O caminhão passa em velocidade incompatível com a região e ainda buzina, como quem diz: vê se presta atenção no trânsito, cara!

O cidadão recua para a calçada, porque logo atrás vem um carro em velocidade mais baixa. Espera que o motorista lhe dê passagem, mas não é necessário. O carro dobra à esquerda, antes da faixa, sem dar o sinal de seta;

Às vezes tenho a impressão de que, especialmente nos veículos mais caros e luxuosos, a sinalização de direção é equipamento opcional, pouco desejado pelos motoristas. Porque pelo menos nesta cidade o sinal de seta é muito pouco usado. Ou talvez na maioria estejam enguiçados.

Nos casos em que as setas funcionam, tento entender a cabeça dos motoristas. Que utilidade teriam para eles? Penso em três hipóteses, por ordem decrescente de prioridade.

  1. O motorista usa a seta para tomar uma decisão, normalmente em cima da hora. “Vou virar pra esquerda!” Tchum. Seta pra esquerda, e é para lá que eu vou. Vou virar para a direita;;; Ou seja, o motorista usa a seta para ele mesmo.
  2. O motorista usa a seta para avisar o outro motorista, quase ao seu lado, de que vai mudar de faixa. Dá a seta e já vai entrando, à direita ou à esquerda. Em caso de batida, a seta ainda piscando será a prova de sua inocência.
  3. O motorista usa a seta para avisar ao pedestre sobre a faixa de proteção de que vai entrar/está entrando/entrou na rua transversal. Em caso de atropelamento, culpa do pedestre que não esperou pela passagem do meu possante.

Nos casos extremos, há os (poucos) que usam corretamente o sinal de seta e os (muitos) que nunca usam o instrumento. Numa cidade como esta, haver tão poucos acidentes e atropelamentos é sinal claro da existência de Deus

Vejo uma rosa bonita no jardim de um prédio do bairro. Uma rosa irresistível. Lembro do pai do Johnny, que rouba flores dos quintais, no caminho de casa, e leva para a mulher.

Tento imitá-lo, mas sou surpreendido pelo zelador. “Que coisa feia!”, diz ele. “Que coisa linda!”, respondo. “Uma beleza destas só tem um lugar para ficar melhor. O colo da mulher amada!”

O zelador sorri e me deixa ir.

 

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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