Coutinho contou uma vez que, chateado com as confusões feitas pelos narradores de rádio, resolveu amarrar uma fita branca num dos pulsos. Ele não queria mais ser o perdedor de todos os gols da dupla e deixar para Pelé as honras dos gols marcados. Quando a bola entrava, gol do Rei. Quando saía, finalização errada de Coutinho. Muitas vezes, era o contrário: Pelé perdia, num lance, e o centroavante marcava, em outro
Até entre os adversários dava-se a confusão. Não ficava muito claro quem vinha com a bola e quem traiçoeiramente se deslocava por trás dos desesperados beques. Piorava mais ainda quando a dupla virava trio, com a presença de Dorval. O inferno ficava mais quente.
O jornalista De Vaney, que nasceu em 22 de fevereiro de 1907, em Ribeirão Preto, e morreu em 29 de janeiro de 1990, na cidade, marcou a imprensa santista. Foi um dos mais premiados cronistas esportivos do país. Em entrevista ao jornal Notícias Populares, de São Paulo, ele contou que tais enganos ajudaram a construir o mito Pelé, cuja carreira acompanhou desde o início.
— Recordemo-nos, por exemplo, de uma irradiação feita por Geraldo José de Almeida: “Gol de Pelé! Gol do craque café! Só Pelé faria um gol assim!” Nisso, o locutor de campo interrompeu: “Olha, Geraldo, o gol foi de Coutinho!” Geraldo não se perturbou: “Só Pelé daria um passe assim!” Nova interrupção do repórter de campo: “Olha, Geraldo, o passe foi de Dorval!” Mas Geraldo saiu-se com esta: “Um gol assim só com Pelé dentro do campo!” O repórter de campo completou: “Só Pelé perderia um gol com essa elegância, com essa majestade de rei do futebol!”.