Antoninho Fernandes, craque no campo e no banco

Um dos maiores artilheiros do Peixe, o meia de futebol refinado virou técnico para ganhar, entre outros títulos, um tri paulista, um brasileiro, uma supercopa sul-americana e uma Recopa Mundial. Foi ouro no Pan-Americano dirigindo o Brasil

                                              Agachado com a bola nas mãos, no time de 1951

 

 

É possível que eu tenha visto Antoninho Fernandes em campo, em seu último ano de jogador. Mas, lembrança que é bom, nada. De 1954, a única imagem que restou com alguma nitidez, mais de 65 anos depois, foi a de um dia sombrio de agosto. Aquele 24 em que o presidente Vargas se matou.

Levaria um pouco mais de tempo para fixar instantes dos primeiros jogos na Vila. Uma derrota para o Corinthians, perto do Natal. Uma vitória contra o Botafogo de Garrincha, com o menino Pelé entrando no fim. Mas Antoninho já não brilhava com a camisa branca.

Para falar a verdade, na minha meninice eu nem sabia quem era Antoninho. Porque ídolos brotavam em penca na Vila e as coisas aconteciam tão rápido com o Peixe, que eu pensava que sempre haviam sido daquele jeito. Um show de bola de não se acabar.

Antes que o Sputnik desse a volta na Terra e assombrasse o mundo, o Santos já corria o planeta e empolgava multidões. Pelé e Dorval vinham na esteira de Ramiro, Zito, Formiga, Álvaro, Pagão, Del Vecchio, Vasconcelos e Pepe. Além desses, Lima, Mengálvio e Coutinho estavam de malas prontas para desembarcar na Vila ou já tinham chegado ao campo dos sonhos. Que tempos!

Os mais velhos falavam maravilhas de Nicácio, Odair, Carlyle, Pinhegas, Walter e, principalmente, Antoninho Fernandes. Mas para quê cultuar o passado, mesmo tão próximo, se o presente nos oferecia tanto? De forma que uma geração de craques foi esquecida, ou nem era lembrada pelos que pegavam o bonde maravilhoso naquela hora, como eu.

Só fui ouvir falar de Antoninho quando ele passou a ser definitivamente o principal assistente do técnico Lula. Não soube dos dois anos que ainda jogou no Jabuca nem do título mineiro conquistado com o Galo, já como técnico, no início dos anos de 1960. Desconhecia, sobretudo, sua importância na formação das inesquecíveis equipes santistas.

Na cidade ou longe dela, Antoninho continuou trabalhando para o clube que sempre amou. Jamais houve um olheiro como ele, capaz de reconhecer o craque no primeiro toque na bola. Ou tão profundo conhecedor do maior celeiro de futebolistas que o Brasil já teve: a várzea santista, de onde saiu e à qual voltaria até morrer.

Nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado, era possível formar fortíssimas seleções nacionais só com jogadores nascidos na cidade, como Olavo, Cláudio Cristóvão Pinho, Baltazar e Pavão, para citar os que fizeram sucesso em outros clubes. Antoninho era um desses selecionáveis, mas teve a falta de sorte de jogar numa época que era mais forte a influência carioca na seleção. Por isso, nunca defendeu a equipe nacional.

Como seu time era a alegria dos juízes safados, teve de se contentar com dois vice-campeonatos paulistas, no período em que jogou no Santos, de 1941 a 1954. Ganhou, ainda, a Taça Cidade de São Paulo, em 1949, o torneio quadrangular de Belo Horizonte, em 1951, e o torneio início do campeonato paulista, em 1952. Pela seleção paulista, foi campeão brasileiro nesse ano.

Rápido, habilidoso e inteligente, era um grande armador – foi chamado de “arquiteto da bola” – e um mortal finalizador. Em exatos 400 jogos, marcou 145 gols para o Santos. É o 12º maior artilheiro santista.

                                                    Medalha de ouro com o Brasil no Pan de 1963

Em 1967, no lugar de Lula com apenas 45 anos de idade, o atacante alto e esguio deu lugar ao treinador gordo e tranquilo, que continuou levando o Santos a grandes conquistas. Em quatro anos, foi campeão brasileiro (Taça de Prata de 1968), continental (Supercopa Sul-Americana) e intercontinental (Recopa Mundial, batendo a Internazionale, campeã da Recopa Europeia);

Ganhou, ainda, o tricampeonato paulista de 1967 a 1969, a Taça Cidade de São Paulo de 1970 (com um time de garotos, já que meio Santos servia à seleção no tri do México) e torneios internacionais, como o Hexagonal do Chile (duas vezes) e o Pentagonal de Buenos Aires. Antes, foi campeão Pan-Americano, dirigindo a seleção brasileira nos Jogos de São Paulo, em 1963. Em 1971, quando Athié deixou a presidência, passou o comando da equipe para seu ex-jogador Mauro.

Antoninho Fernandes nasceu em Santos no dia 13 de agosto de 1921. Morreu muito jovem, aos 52, também em Santos, no dia 10 de dezembro de 1973. Era um domingo. Horas depois, viu lá de cima o seu time entrar em campo, no Morumbi, para enfrentar o Palmeiras.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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