Saudades do barbeiro

Nunca fui de me preocupar muito com os cabelos. Importa que não deem muito trabalho. Mas agora, por saber que a barbearia está interditada, eles incomodam. Sinto falta de uma aparada. Daí lembrei de um texto publicado aqui no blog.

Assembleia da greve de 1979: muito cabelo ruim

Beleza e preconceito

Olho para trás e fico pensando que meus cabelos sempre foram brancos e poucos. Quando muitos, vejo nas fotos do time da redação e de uma assembleia da greve de 1979, eram desgrenhados. Jovem adulto, tentei alisá-los com um produto e a orientação da namorada. O resultado provocou o comentário de um negro famoso: “O jornalista tem um pé na cozinha!”

Acho difícil, mas talvez houvesse em mim algum vestígio de sangue índio, como assegurava a madrinha, irmã de meu pai, para desgosto de minha mãe. Incrível, mas a Bela também carregou algum preconceito no coração bonito. E quem não?

O Velho Bondade em Pessoa, por exemplo. Sua cisma eram os pretinhos, que ele achava mascarados, quando jogavam no juvenil do Peixe. E, aqui entre nós, os carinhas eram metidos mesmo. Entojados.

Um deles chamava-se Luís Cláudio. Chegava na entrada do ginásio Athié Jorge Cury, mal olhava para meu pai e, na maior, ia entrando. Mas o velho barrava: “Ingresso, por favor!” O rapaz, surpreso: “Como assim, ingresso? Não me conhece?”. E o velho inflexível: “Não conheço. Ingresso, por favor!”.

Talvez tenha sido ali, recolhendo os bilhetes dos jogos de vôlei e basquete, que ele exerceu alguma autoridade na vida. Especialmente diante de quem, na avaliação dele, era mascarado.

Naquela viagem com o maior time do mundo, achei legal o Rei me considerar da raça dele. Apesar de isso também significar cabelo desgrenhado, ruim, como se dizia. Mas a negritude estava em alta no mundo, com Ali, Hendrix e Marley. No Brasil também, com Simonal, Elza e o próprio. Ele, Pelé!

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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