É pela vida a guerra que a Globo trava contra o presidente. Guerra do dragão contra o dragão, pois não há santo guerreiro nessa história. Mal contra o mal, e o bem fica muito bem escondido, porque entre os apoiadores de lado a lado não há em quem confiar.
Para a emissora que teve o mérito de introduzir o BBB por aqui, a questão parece ser mesmo de sobrevivência, a julgar pelo pífio desempenho comercial que se observa em seus chamados horários nobres.
Nos intervalos do Jornal Nacional, a globo é agro, a globo é tech, a globo é pop, com o apoio de um banco e de uma montadora. Deve render uns pichulecos, mas é só. Há duas semanas, também tentando colocar o nariz acima do nível da água, a TV Zorra Total liberou seu jornalístico, que passou a mencionar o nome de empresas nas reportagens.
Rompeu uma tradição de décadas sem chamar, por exemplo, as equipes Red Bull de Red Bull, nas transmissões esportivas, principalmente o automobilismo. Para Galvão Bueno, a escuderia chama-se RBS, entenda quem puder. E o telespectador que se dane.
O pretexto atual é estimular a iniciativa privada a ampliar a ajuda humanitária no combate ao covid-19. Surgiu até uma vinheta criativa: “solidariedade S/A”. Mas a ajuda que se espera, e que ainda não apareceu com força, é de fato o incremento da publicidade paga nos canais do Bozo.
A situação é tão triste que, na noite de domingo, num intervalo do Fantástico, foi visível a absoluta ausência de inserção comercial de porte. Entre chamadas da programação global, o que apareceu foi um único e escasso reclame (como é bom ser antigo, para poder usar expressão tão saborosa!) de construtora local, na retransmissora de Sorocaba.
O que poderia salvar a lavoura seriam verbas irrigadas por ministérios, bancos públicos e estatais de variados setores. Ah, como fazem falta o adubo de uma Petrobrás, os insumos do Banco do Brasil, a chuvinha boa das leis de incentivo bancadas pelo dinheirinho da União! Mas o capetão malvado cortou tudo isso.
A saída é derrubar o causador de tanto mal. Fora, obscurantista inimigo da democracia, da cultura e da imprensa livre e sua gangue de milicianos rancorosos! Que venha alguém mão aberta no uso dos recursos públicos, como os governantes anteriores!
Afinal, que mal tem gastar rios de dinheiro na propaganda de empresas monopolistas, dispensadas de seduzir consumidores compulsórios? Por que não dar estímulos a ações meritórias como as da FRM? Como ser contra o financiamento de obras primas da sétima arte, como as impagáveis comédias produzidas pela Globo Filmes?
A pancadaria dos últimos dias nos canais das Organizações Tabajara é mais do que justa e merecida. E não se cobre coerência desse jornalismo com causa. Se até a semana passado o candidato a presidente defendido era o Botafogo (codinome do presidente da Câmara dos Deputados na planilha de propinas da Odebrecht), não há de haver espanto se agora ele perdeu espaço e foi substituído.
Eis que uma voz mais alta se alevanta e a vitória, com ela, parece estar próxima. Mais do que nunca, a salvação justifica os meios empregados. No desespero, a emissora usa tudo o que tem, das distorções ao direcionamento do noticiário, e abandona de vez o respeito à boa conduta jornalística.
Lamento pelos bons profissionais envolvidos nisso.