Só fui ouvir falar do juiz Sérgio Moro quando ele passou a cuidar dos casos ligados ao petrolão, escândalo comandado por Lula quando presidente e continuado no governo Dilma. Imediatamente, passei a admirá-lo, pelas atitudes firmes e pela correção com que se conduziu ao longo de todo o processo. A admiração estendeu-se à toda a equipe da Operação Lava Jato, promotores, desembargadores e policiais federais.
Entendi, e continuo entendendo, que as revelações levantadas pela operação e sobretudo a condenação e prisão de dezenas de medalhões, entre empresários, doleiros, autoridades públicas e políticos bem situados transformaram o país em modelo no combate à corrupção. Por isso, fiquei surpreso quando o juiz resolveu aceitar o convite do presidente eleito para assumir o cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública.
Para mim, Moro deu ali um passo errado. Aceitei, contudo, a razão apresentada por ele para abandonar a magistratura em troca de um cargo público. Como ministro, Moro julgava que teria mais força para levar adiante e aprofundar a luta contra a corrupção. Para isso, recebeu garantia de carta branca de Bolsonaro no exercício do cargo.
Pela experiência acumulada e as dificuldades enfrentadas em Curitiba, a estratégia de Moro era dar maior respaldo jurídico à Lava Jato. Daí ter dedicado seus primeiros dias de ministro à formulação do pacote anticrime, apresentado ao Congresso em tempo recorde, no dia 4 de fevereiro do ano passado, um mês depois da posse do novo governo.
O projeto foi retalhado na Câmara e, em seguida, colocado de lado, sem que Bolsonaro saísse em defesa do seu ministro. Ao contrário, o presidente estimulou inclusive alterações no formato do Ministério, entre elas a retirada da Coaf de sua jurisdição. Moro engoliu os primeiros sapos e seguiu no cargo.
Em agosto, o ministro de novo ameaçou sair do governo, diante da possibilidade de o Planalto substituir o delegado da PF no Rio de Janeiro. Bolsonaro recuou e repetiu juras de amor a Moro, que se sentiu prestigiado. Assim, entre tapas e beijos, a relação foi levada até a última sexta-feira, dia 24 de abril.
De forma que lamento a saída de Moro, como uma perda para o País. Mas não posso deixar de assinalar um erro do ex-ministro no anúncio da renúncia. Ele não tinha o direito de trazer a público conversas pessoais com o presidente, uma vez que elas se deram dentro de uma relação de confiança entre os dois.
Minha opinião se baseia na experiência que tive como assessor de imprensa de empresas privadas e órgãos públicos. Nessa situação, o profissional de comunicação tem compromisso ético claro com o cliente. Deve manter estrito sigilo sobre informações obtidas no contato privilegiado com ele. É algo semelhante à relação do advogado com o cliente e do padre com o confessor.
Moro fez como o vigário que, no sermão de domingo, conta detalhes da confissão de um paroquiano. Ou como o defensor que denuncia o crime narrado pelo cidadão que lhe pede ajuda profissional. As informações que Moro divulgou não mais lhe pertenciam, mas sim ao ministro de Bolsonaro, o que já não era.