Afagos e provocações da pandemia

O que me deixa mais irritado é ouvir autoridade dizer que meu netinho, o Bento, é um perigo para mim, avô do grupo de risco.
Se a convivência forçada continuar por mais tempo, pais e filhos virarão inimigos mortais, E poucos vão suportar a convivência forçada com sogros, genros, avós, cunhados, tios e primos.
Diz-se que a reclusão provocará um boom de nascimentos no fim do ano. Pode ser, mas muitos casamentos não resistirão até lá.
Como na lei seca americana, é possível que surjam por aqui baladas clandestinas. Convocadas pelas redes sociais.
Ironia! Agora que a cidade está tão deliciosa, me proíbem de sair de casa.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, desejar bom dia não transmite o vírus a quem passa.
Passarinhos e flores não são hospedeiros nem transmissores. Que bom! Mesmo pessoas com ódio incurável podem gostar deles.
A moda da cantoria nas varandas parece que passou. Ainda bem. Eu já estava prevendo bate bocas tipo porcos versus gambás e até tiroteios.
Não gostou da afinação do tenor do prédio azul? Espere até ouvir a soprano da cobertura ao lado.
A guitarra do garotão do quinto andar incomoda mais que reclusão.
Ouvi alguma bateção de lata, semana passada. Não identifiquei um mísero Chico Batera.
Dellivery de abraços. iFood de beijos. Alguém já pensou nisso?
Vida em desencontro é assim. Meu netinho volta de Itupeva; agora, eu posso ir pra lá.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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