Em outros tempos, eu tinha um jeito fácil de formar opinião própria. Lia os editoriais de um grande jornal paulistano, e seguia em outra direção. Era infalível, e se confirmava com a leitura do noticiário. Os fatos em geral não batiam com o que os donos da publicação pensavam.
Por mais estranho que possa parecer aos consumidores da mídia atual, naquele tempo patrão tinha o espaço de opinião para defender seus pontos de vista. As notícias eram sagradas. Os veículos de tradição procuravam orientar seus leitores a partir de princípios ideológicos, sem brigar com a realidade.
Hoje, a fórmula mudou, e a inversão de valores vale para quase toda a chamada grande mídia. Sem o menor pudor, os donos das empresas determinam o que é informação de interesse público e, ainda por cima, deturpam o que é publicado.
Um exemplo prosaico vem do UOL, suposto portal de notícias do grupo Folha. De vez em quando recebo, compartilhado por alguém no facebook, uma coisa que os caras de pau chamam “UOL Notícias”. Sério! É esse o nome que eles dão aos textos que distribuem. Abro e, sem surpresa, vejo que se trata de artigo opinativo de colunistas ou comentaristas do grupo.
Tudo obrigatoriamente tendencioso. Sempre, com raríssimas exceções assinadas por profissional da redação do jornal, defendendo as mesmas posições. Em escala ainda pior, a sacanagem se repete no rádio e na TV.
A TV, território do qual a reportagem foi praticamente banida, dedica cerca de 90% do tempo “informativo” a mesas redondas, debates e entrevistas com “especialistas” cuja posição ideológica é logo enunciada, quando não a partir da identificação do convidado, no máximo quando responde à primeira pergunta.
Em geral, o que determina tais atitudes parciais e rancorosas são interesses contrariados. Vejam os exemplos recentes da guinada editorial de grupos como IstoÉ e Bandeirantes. A Globo e seus canais, depois de na primeira hora apoiar o afastamento de Dilma, logo virou o jogo e passou a atacar o substituto.
Essa lição me foi ensinada no início da carreira, no jornal da minha cidade. Como o interventor municipal resolveu criar uma gráfica e um diário oficial para desovar a publicidade legal da Prefeitura, o jornal resolveu se vingar da perda de parte importante de suas receitas. O chefe de reportagem me mandava visitar cada dia um bairro, com um fotógrafo, e escrachar as mazelas da cidade. Como sempre há mazelas e como quem procura acha, era tiro e queda!
A refrega durou menos de uma semana, quando um acordo selou o armistício. A Prefeitura voltou a publicar suas matérias pagas no jornal e eu parei de mostrar os problemas que afligiam a população. Fui cobrir outras pautas.
Nos últimos anos, desacorçoado, como dizia a mãe, com a mídia disponível, cancelei uma a uma as assinaturas: Estadão, Veja, Folha e, por último, o portal de notícias do UOL. Esse que chama opinião de notícia.