Com o JN, o jornalismo bate no fundo do poço

A edição do Jornal Nacional da última quarta-feira, 18 de marco, foi a pá de cal. Nunca vi, que eu me lembre nem na época sabuja dos tempos da ditadura militar, a Globo ter um comportamento tão sujo. Não é o caso de fazer a exegese do que foi aquilo, mesmo porque a emissora vem há tempos se esforçando em corromper todos os predicados da boa prática jornalística.

Bastaria dizer que, ao apresentar sua cobertura da coletiva de imprensa do governo, a Globo dedicou toda a longa primeira parte do jornal a discutir a errática atitude do presidente diante da pandemia. Para insinuar que, se o covid-19 não foi causado por Bolsonaro, cabe a ele a culpa de a doença atingir esperada situação de calamidade pública. Por ter demorado a reconhecer a gravidade do problema e vacilar em adotar as atitudes necessárias.

A crítica pode fazer sentido, mas deve ser endereçada a pelo menos todos os governos ocidentais, que viram a doença crescer na China e em outros países da Ásia, e só se mexeram com a água no pescoço. Vale pra Itália, França, Espanha, Inglaterra, Portugal etc. Já neste lado do planeta, não se pode dizer que as potência do norte, EUA e Canadá, fizeram mais e melhor do que nós. Ou seja: o coronavírus é desafio superior à capacidade de reação e enfrentamento de todos.

Mas a Globo precisava arranjar um jeito de culpar o governo e, por isso, fez seu principal noticioso dedicar-se com prioridade a discussões pretéritas e inócuas, antes de tratar do que interessa à audiência: as medidas do governo para enfrentar a doença e encarar suas consequências econômicas e sociais. Depois, vieram também a longa e rasteira discussão sobre o uso das máscaras sanitárias pela equipe do governo (o que antes a GloboNews já havia feito à exaustão) e a inédita cobertura do chamado panelaço, que ocupou toda a parte final do JN.

Ao falar dos números do coronavírus no Brasil, a emissora dos Trapalhões e da Escolinha do Professor Raimundo conseguiu lançar outra maledicência grave, capaz de aumentar o pânico que se alastra. Sugeriu que os casos, inclusive de mortes, podem ser muito maiores do que os divulgados, porque o governo limita os testes às pessoas com sintomas de infecção. É uma forma bem safada de jogar a opinião pública contra as autoridades. Em nenhum lugar com população equivalente à brasileira, foi ou é possível testar todo mundo.

Ontem mesmo, num canal SporTV (Globo também), um jogador da NBA e da nossa seleção afirmou que não passou pelos testes, embora cinco atletas de uma só equipe estejam contaminados. “Não há testes suficientes”, disse ele. Falava de Estados Unidos, o país mais rico do mundo, e de uma liga esportiva que é luxo só. Mas a Globo quer porque quer que o Brasil teste um por um todos os seus 210 milhões de habitantes. Jornalismo lixo.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

2 comentários em “Com o JN, o jornalismo bate no fundo do poço”

  1. Marcão, a mídia impressa não fica atrás. Já nem se fala do grupo Folha e seu jornalismo militante. Mas até o Estadão está entrando nessa. Foto gigante na primeira página, de cartaz contra Bolsonaro. E uma mulher na janela, com alguma coisa que pode ser panela. Legenda: Panelaços- paulistana protesta; ao fundo,imagem de Bolsonaro,cujos apoiadores fizeram atos menores. Na primeira pg inteira não tem uma notícia positiva. Uma pessoa bate panela e vira panelaço? No interior do jornal,a mesma coisa. Não tem reportagem, só opinião!

    1. Realmente, não dá para poupar a mídia impressa, suas versões eletrônicas (UOL) e revistas quer deveriam prezar mais por suas imagens. ao invés de se envolver na mais calhorda militância político-eleitoral.

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