O cronista que cantou o Santos e Pelé

O jornalista De Vaney, nascido em Ribeirão Preto e criado no Rio de Janeiro, mudou-se para Santos em 1939. Quando passou a trabalhar em O Diário, na Rua do Comércio, endereço em que funcionou depois o Cidade de Santos (ambos extintos), De Vaney já havia assistido a duas Copas do Mundo: a de 1934, na Itália, e a de 1938, na França. O jornalista apaixonou-se prontamente pela cidade e, com seus textos maravilhosos, fez também os santistas apaixonarem-se por ele.

Não é exagero afirmar que, durante quase três décadas na imprensa santista, Adriano Neiva da Motta e Silva, seu nome de batismo, foi o mais brilhante e premiado cronista esportivo do País. Como colaborador, trabalhou para os principais jornais brasileiros, foi correspondente de veículos da América do Sul e da Europa e influenciou várias gerações de jornalistas. Ganhou todos os concursos de que participou – entre eles o promovido pelo jornal O Globo, do Rio, que deu a Santos o título de município mais esportivo do Brasil – e escreveu diversos livros, como a série História Oficial dos maiores clubes de São Paulo.

De Vaney foi o primeiro jornalista a entrevistar Pelé, pouco depois da chegada do menino de Bauru ao Santos, em 1956. A partir dali, acompanharia toda a carreira do Rei, ajudando a criar a mística em torno do maior jogador de futebol de todos os tempos. Entre o fim dos anos 1960 e o início dos 1970, porém, algo  fez o jornalista desentender-se com o jogador. Tornou-se, então, o maior crítico de Pelé, especialmente da decisão dele de abdicar da seleção brasileira, em 1971.

De Vaney nasceu em 22 de fevereiro de 1907 e morreu em 29 de janeiro de 1990, em Santos. Em 1971, em entrevista ao jornal Notícias Populares, de São Paulo, ele contou como se construiu o mito Pelé, segundo registrado pela antologia A crônica esportiva, publicada pela prefeitura santista. A seguir um trecho da narrativa do jornalista:

Recordemo-nos, por exemplo, de uma irradiação feita por Geraldo José de Almeida: “Gol de Pelé! Gol do craque café! Só Pelé faria um gol assim!” Nisso, o locutor de campo interrompeu: “Olha, Geraldo, o gol foi de Coutinho!” Geraldo não se perturbou: “Só Pelé daria um passe assim!” Nova interrupção do repórter de campo: “Olha, Geraldo, o passe foi de Dorval!” Mas Geraldo saiu-se com esta: “Um gol assim só com Pelé dentro do campo!” O repórter de campo completou: “Só Pelé perderia um gol com essa elegância, com essa majestade de rei do futebol!”.

Na sequência, o entrevistador pergunta a De Vaney se para ele, então, Pelé é só mística: De maneira alguma. Pelé foi o maior jogador que vimos jogar. Mas os senhores hão de convir de que também jogaram muito por ele.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

Um comentário em “O cronista que cantou o Santos e Pelé”

  1. De Vaney trabalhava na Rua do Comércio 2, primeiro andar, redação de O Diário. No térreo ficava a gráfica e no segundo andar – de forma intermitente – a sede clandestina do PCB. Quer dizer: acima do De Vaney estava o stalinismo.

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