No dia da prisão do Temer, um ex-funcionário do PT, hoje comentarista de rádio (eles estão por todo lado, após o fim das boquinhas), disse que a sentença do juiz da Lava Jato criminalizava a política e prejudicava o governo na sua relação com o Congresso. Por consequência, afirmou o militante, colocava obstáculos à tramitação e aprovação do conjunto de reformas preconizadas pelo Executivo.
O comentarista é o que se chama de “jornalista político”. Esse tipo, em geral, se diz crítico feroz da “velha política” e fervoroso defensor da renovação das práticas políticas. Isso, é claro, da boca pra fora, em discursos vagos, meramente teóricos. Nas situações reais, alinham-se invariavelmente ao passado. Gostosamente, deixam-se abduzir pela conversa fiada das velhas raposas.
Assim que o governo enviou para a Câmara seus principais projetos, entre eles o de Moro, foi unânime a crítica a respeito de uma certa “falta de articulação”. É evidente que essa pílula de sabedoria política tem origem no parlamento, é vocalizada na mídia pelas lideranças queridinhas (entre elas a da oposição de esquerda, resistente) e conquista corações e mentes dos comentaristas, especialmente no rádio e na TV.
Nas sucessivas sessões de “eu acho que”, “uma fonte me disse”, “na minha opinião”, que preenchem a grade da emissora, as melhores cabeças da Globo News aderiram imediatamente. Não questionaram a conduta de quem usa o cargo público em defesa de interesses menores, nem procuraram a razão de o nhonhô fazer beicinho. Apenas insistiram: como o governo quer aprovar as reformas, se não tem “articulação política”? – reforçando a cobrança com sonoras dos mais inexpressivos porta-vozes do baixo clero, no qual hoje se incluem PT, PSOL e companhia.
Articulação política? Que bicho é esse? Para os çábios, articular é “fazer política”. Caramba! Genial! O comentarista da rádio falou. Os especialistas da TV repetiram. O governo precisa fazer política. Pois sim, sei, tá bom! Conversa fiada: isso aí é o velho toma-lá-dá-cá, o “é dando que se recebe”. Tão condenada em outros momentos, tais práticas parecem estar reabilitadas. Não são mais pecado.
O ex-funcionário do PT lamentou a criminalização da política, sem nominar os verdadeiros responsáveis por isso: os políticos corruptos, envolvidos nas bandalheiras que o projeto do Moro quer pegar e Rodrigo Maia prefere arquivar. Um desses alvos é justamente o oportunista menor, que herdou a Câmara de Eduardo Cunha e a manteve com benesses oferecidas aos pares.
Rodrigo Maia, subitamente reverenciado por grande parte da mídia e dos blogueiros “bem informados”, merece sua origem e é digno sucessor de Cunha. Deve ter motivos pessoais para querer barrar o projeto anticrime, com as justificativas que quiser. Jornalistas, porém, não têm o direito de entrar nessa conversinha. Nem de criticar a prisão de Temer, se há pouco reclamavam da imunidade que mantinha o ex-presidente fora do alcance da Justiça. Argumentavam, então, que o fim, o “fora Temer”, justificaria o atropelo da lei.
Jornalista, até para abrir mão da honestidade, deveria ser coerente.