Meninos da Vila, o nosso maior ativo

Junto com a história incomparável, escrita em mais de um século por centenas de craques, a marca Meninos da Vila é hoje o maior ativo do nosso clube. Infelizmente, o patrimônio físico – composto de um estádio charmoso e histórico, mas decadente, e de dois acanhados centros de treinamento – pouco valor agrega à marca. Não coloca o Santos na primeira linha do futebol, por essa avaliação.

O time também não assegura estabilidade financeira ao Peixe, na medida em que seu nível de competitividade há tempos se mantém abaixo da média, mesmo no concerto nacional. O resultado é que desaparecem os títulos (nos primeiros doze anos deste século, ou seja, até seis anos atrás, éramos o time mais vitorioso do futebol brasileiro) e a torcida some dos estádios.

O fenômeno negativo solapa outros dois potenciais de arrecadação: a ampliação do quadro associativo e o faturamento das bilheterias. Do que decorrem, ainda, perdas significativas na atração de parcerias e patrocínios e na participação no rateio das cotas de TV.

Transformar a história em ativo gerador de ganhos econômicos para o clube, embora obrigatória no caso da grandeza do Peixe, é tarefa difícil, quase impossível quando não se tem um marketing eficaz. Na verdade, esse bicho é coisa estranha nas bandas da Vila. O departamento só funciona de forma reativa, mal e mal aproveitando as oportunidades que se apresentam, ao sabor do desempenho do time de futebol e do surgimento de novas estrelas.

Resta o caminho mais fácil e seguro de investir na formação de novos talentos, aperfeiçoando nossa expertise no setor e aproveitando a justa fama que conquistamos de clube formador de jogadores. Temos reconhecimento mundial. Nossas divisões de base recebem observação de olheiros dos principais mercados do futebol. Mas a nossa produção é, digamos, artesanal. É quase um milagre que, vez ou outra, surja um Robinho, um Neymar.

Não tenho a mínima dúvida em defender que, hoje, o maior investimento do clube deveria ser feito na base. Na estrutura de atração, recepção, preparação e revelação de jovens talentos. O que inclui a construção de um moderno e amplo centro de treinamento, a montagem de equipes multidisciplinares para cuidar da formação dos garotos e a estruturação de um trabalho técnico integrado ao elenco profissional.

O Santos sempre foi campeão contando com a força de suas revelações. Essa trajetória, iniciada com os jovens fundadores do clube, intensificou-se nos tempos de Athié, Lula e Antoninho Fernandes, ganhou impulso com Chico Formiga e o time moleque de 1978 e consolidou-se com Pelé/Samir e a instalação do primeiro CT do clube, no bairro do Jabaquara, onde a presença do capitão Zito era fundamental.

Nas últimas gestões, a partir de Roma, a receita foi esquecida. A presença de um agente de jogadores como conselheiro da presidência dirigiu o clube para o mercado externo, com resultados trágicos, tanto técnica quanto economicamente. Atentado pior sofreu o trabalho de base do clube, que foi praticamente abandonado. Nossos times do sub 20 para baixo sofreram um processo de enfraquecimento que se reflete até hoje nas fracassadas participações em torneios nacionais e internacionais e na carência de revelações para abastecer o time principal.

A diretoria atual, embora sem ter um empresário para chamar de seu, também insistiu na busca de reposições estrangeiras para o time principal (nada contra a eventual contratação de jogadores no mercado sul-americano, desde que essa não seja a política e a prioridade) e continuou errando no trabalho dirigido às equipes menores. Estamos ficando para trás, rapidamente superados não só pelos rivais tradicionais do sul e de Minas, mas também por clubes de menor tradição. Que 2019 represente um reinício para os Meninos da Vila.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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