Na fase final do campeonato paulista de 1975, o primeiro disputado pelo Santos após a era Pelé, aconteceu uma inédita rodada tripla no Morumbi, reunindo os seis clubes que disputavam o título do segundo turno. Corinthians e América de Rio Preto jogaram com o sol ainda brilhando e a segunda preliminar – São Paulo x Palmeiras – aconteceu já com a luz dos refletores. Por fim, o jogo de fundo: Peixe x Portuguesa de Desportos.
Conhecidos os resultados das partidas anteriores, a Lusa entrou em campo interessada no empate, que a manteria em primeiro lugar (só o campeão desse hexagonal iria para a decisão do título contra o São Paulo, vencedor do primeiro turno), com vantagem no saldo de gols sobre o próprio Santos. Por isso, tratou de tocar a bola e fazer o tempo passar. Antes de partir para o desespero do ataque total, no segundo tempo, os santistas ainda tentaram atrair o adversário para o seu campo, procurando abrir a retranca lusa.
Nosso time já não tinha a força dos anos anteriores, mas no comando do ataque havia Cláudio Adão, pelo segundo ano consecutivo artilheiro santista. Natural de Volta Redonda, RJ, o centroavante havia sido formado nas categorias de base do Santos e tinha acabado de completar 20 anos. Pelo porte físico, foi para mim a maior esperança de revelarmos um novo Pelé, naqueles tempos em que a inevitável procura mal havia se iniciado.
Como o Rei, Cláudio Adão foi o único atacante que vi disputar bolas pelo alto, de costas para os zagueirões adversários, e voltar ao chão mantendo o equilíbrio para continuar a jogada. Mas não era só o físico. Havia também o chamado “faro de gol”, e uma inteligência muito acima da média. Esta última qualidade estava prestes a ser demonstrada, quando se aproximava dos 20 minutos o jogo chato do Morumbi, entre uma Portuguesa que não queria ganhar e um Santos que ainda esperava o momento certo de atacar. O empate sem gols permaneceria até o fim, mas houve o momento mágico de Cláudio Adão.
A Lusa tinha um líder incontestável no meio de campo. Era Badeco, volante alto e técnico, que determinava o ritmo da partida. Desde o início, ele segurava a bola, tocava de um lado para o outro, procurava as zonas mortas do campo. De vez em quando, chegava perto da linha central do gramado, mas não invadia o espaço santista. Parava nas imediações do grande círculo, voltava um pouco e, lá de longe, atrasava a bola para as mãos do goleiro (manobra que as regras do futebol ainda permitiam).
Era a clássica “cera”, que Badeco não teve vergonha de fazer três vezes, na última tão tranquilo que nem se deu ao trabalho de olhar para trás. A bola já havia saído de seus pés quando percebeu, alarmado, que entre ele e o goleiro Zecão, Cláudio Adão estava sorrateiramente colocado, perto da meia lua da área lusa. O gol só não saiu porque Zecão – o primeiro em todo o estádio a perceber a astúcia do santista – conseguiu chegar junto e atrapalhou a conclusão do lance.
A Portuguesa foi para a decisão contra o São Paulo e, depois de uma vitória para cada lado, repetiu o fiasco de dois anos antes na cobrança de pênaltis. Errou as três primeiras cobranças, o juiz fez as contas certas e não houve divisão de título, como em 1973, quando tivemos de dar metade da taça para eles, por conta da incompetência do Armando Marques. No ano seguinte, já sem Cláudio Adão que havia quebrado a perna num choque com o goleiro do América, em Rio Preto, o Santos nem se classificou para o segundo turno.