Na noite mágica do bi, a maior festa que o Maracanã já viveu

Há 55 anos, tinha início a segunda parte da epopeia da conquista do bicampeonato mundial pelo Santos. Na primeira parte, um mês antes, com Pelé em campo, perdemos de 4 a 2 para o Milan dos brasileiros Dino Sani, Altafini (Mazola) e Amarildo. No jogo de volta, o Rei lesionado desfalcou o Peixe, que também não teve o capitão Zito e o zagueiro Calvet. Mas a noite terminou em festa, a maior da história do Maracanã.

 

A bola ainda está parada, antes do início do jogo, ou é apenas um objeto inanimado nas mãos de um auxiliar qualquer da arbitragem, nos minutos que separam um tempo do outro. Momentos mágicos de expectativa para jogadores e torcida e também de retomada de fôlego para mais 45 minutos de partida.

Dependendo das circunstâncias, degusta-se a conquista que virá ou alimenta-se a esperança de que algo aconteça para contrariar o fim anunciado. O destino, em geral implacável, tende a se cumprir. Só em ocasiões raríssimas, a mandinga se quebra. Forças inexplicáveis unem-se para colocar as coisas nos devidos rumos e transformar a frustrante fatalidade.

Maracanã. Perto das 10 da noite, a imagem da TV Tupi volta ao vivo do Rio de Janeiro, depois do intervalo comercial, e mostra, iluminado pelos refletores do estádio, o temporal que subitamente encharca a Cidade Maravilhosa.

Pouco mais de uma hora antes, no início da transmissão, o que a TV levava para todo o país era a figura do Cristo resplandecente na noite carioca, aureolado pela claridade da lua. Mas agora chove, e os jogadores de Santos e Milan estão ensopados, quando se colocam em campo para o reinício do jogo.

Ao contrário de abater, o aguaceiro anima o público. Mais de 100 mil cariocas, rubro-negros, cruzmaltinos, tricolores, botafoguenses, americanos. Cristãos novos de vários tipos, gentios que só foram ao futebol atraídos pela magia das camisas brancas. Era o sobrenatural se manifestando. Aqueles torcedores tinham todos os motivos para se comportar de maneira exatamente oposta.

Pelé nem entrara em campo. Nem ele nem Zito nem Calvet. O time estava desfalcado do principal jogador de cada um dos três setores: defesa, meio de campo e ataque. E o primeiro tempo havia sido algo muito próximo da tragédia. Aos 10 minutos, gol de Altafini. Aos 20, gol de Mora. Milan 2 a 0. O sonho do bicampeonato mundial interclubes ficava cada vez mais distante.

Começa o segundo tempo. A chuva fria incendeia os jogadores de branco. A torcida empurra, os milaneses recuam, Pepe e companhia começam a exibir seu arsenal de petardos. O Canhão da Vila solta a bomba da intermediária: 1 a 2. Dalmo bate uma falta da esquerda, a bola quica na área e Mengálvio desvia de leve: 2 a 2. Lima da meia direita, bem distante da linha da grande área: 3 a 2. Pepe de novo, cobrando falta quase do meio de campo: 4 a 2.

A virada inacreditável literalmente caíra do céu, junto com a chuva. Dois dias depois, com tempo bom, Santos 1 a 0, bicampeão do mundo.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *