Na década de 1960, o Estadão desancou a APAE, associação de pais e amigos das crianças excepcionais, por obra de um editorialista português, gente fina, que agiu a pedido da direção. O redator escreveu, e o jornal publicou, que tais pessoas, tão orgulhosas de seus brilhantes rebentos, os excepcionais, melhor fariam se os exibissem em programas domingueiros de TV. Foi algo assim, bem chocante.
Em outro editorial da época, o jornalão fez uma “advertência” ao papa de plantão, em assunto da Igreja. Tipo: “Recomendamos à Sua Santidade que se abstenha de…” Literalmente, ensinou o Padre Nosso ao vigário. Pois arrogância é outra carta do baralho da imprensa, tema deste blog outro dia, quando o assunto foi a reação raivosa da mídia, quando contrariada. Falava da Folha
No tempo em que os editoriais do Estadão cometiam tais atrocidades, a Folha nem publicava editorial. Não tinha opinião. O máximo que fazia era abrigar colunas sociais, abundantes também em outros diários do grupo. Num deles, um colunista divertia-se identificando os “hóspedes do cinco estrelas da Rua Tutóia”, ou seja, os perseguidos que a ditadura mandava para o DOI-Codi. O nome Vladimir Herzog teria constado de um desses check-ins.
Dos 1980 para cá, a Folha publica editoriais, até na primeira página, de vez em quando. Nesta segunda-feira, dia 29 de outubro, o texto “Constituição acima de todos”, que divide a capa com o noticiário das eleições, não é só ironia com o mote de campanha do presidente eleito. É, também, a reafirmação do ódio que o grupo empresarial passou a nutrir pelo “capitão reformado”, desde que ele reagiu a uma matéria que considerou tendenciosa. A mídia odeia ser acionada na justiça, direito de todo cidadão e instrumento legítimo nas democracias.
Até aqui, estamos falando de ira e raiva. No fim do editorial, vêm a soberba e a arrogância. Achando-se no direito de substituir os quase 60 milhões de votos que legitimam a eleição de Bolsonaro, exige que o presidente seja diferente do candidato. Mas como, se foi justamente com o que falou e prometeu que conquistou a vitória? Está sugerindo que, tal qual Dilma, traia o eleitorado e troque o que anunciou pelo que o jornal acha melhor?
É exatamente isso. O jornal arroga-se impor a Bolsonaro que mude, que esqueça o que falou nos últimos meses. O tom é quase de ameaça, porque “a Folha ficará onde sempre esteve”. Pena que não localize precisamente esse onde. É o de agora? O de anteontem? O dos idos de 1964?
PS 1: Só para constar, o blogueiro votou em branco, no último domingo
PS 2: O primeiro parágrafo foi reescrito com correções de Ludenbergue Góes
Muito bem!!!
Obrigado, Paulo!
Marcão, grande prazer! Saudades das nossas ótimas conversas na redação. A afinidade continua a mesma: nunca consegui ler direito a Folha. Até assinante fui, por pouco tempo. O problema é que nunca confiei na linha (?) dá Folha. Grande abraco, grande beijo,
grande tudo!
Saudades, Prado! A gente era feliz e sabia! Abração