Imprensa raivosa

“Desse baralho eu entendo”, disse uma vez o antigo treinador de futebol Rubens Minelli, irritado com o tratamento que recebia da CBF. O corporativismo dos jornalistas e o poder de retaliação das empresas de comunicação – o baralho da imprensa – são talvez menos insondáveis, porque se escancaram barulhentamente ante qualquer contrariedade.

A Folha e seus coligados UOL e Datafolha nem disfarçam o rancor que passaram a nutrir de um dos oponentes da disputa presidencial, após o questionamento da isenção de seu grande feito. A denúncia de utilização de recursos privados para fomentar ataques difamatórios contra o adversário é mesmo gravíssima.

O jornal tinha a obrigação de publicar, mesmo que a apuração tenha sido tão frágil e leve a assinatura de uma profissional assumidamente situada num dos fronts da disputa. Da mesma forma, porém, é direito do acusado refutar a acusação e até colocar em dúvida a imparcialidade da matéria.

Nada demais. Nada que não aconteça a toda hora, em qualquer parte do mundo. Nada que não se resolva nos foros competentes, nos lugares civilizados. O problema é que, por aqui, a mídia não consegue conviver com a contradição, atitude que exige de outros setores da sociedade. Em geral, reage com fogo de artilharia contra o petulante desafeto.

Teria sido mais decente a Folha anunciar apoio ao candidato de sua preferência em editorial de capa, como já fez em outras eleições, e deixar o noticiário em paz. Alguma dúvida sobre a ira sagrada do jornal? Vejam a primeira página de hoje, acompanhem o noticiário das eleições pelo UOL. É só ter olhos para ver!

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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