Negócios da bola (segunda parte)

Tentativa de roteiro “baseado em fatos reais”, para série de TV. Os fatos que se seguem, datados de décadas atrás, envolvem um time de futebol e pessoas já mortas, cujos nomes foram modificados. Testemunhas ouvidas pelo autor narraram estas histórias, que nada são mais do que ficção e galhofa.

 Temporada 1, episódio 2

Quarto de hotel cinco estrelas em cidade de um país alpino. O técnico Paco reúne o time para resolver um problema grave, que ameaça não só a reputação dos jogadores e do time, mas a do próprio país que representam. O clima é tenso.

Cinco horas antes.

O comércio local está fechado ao público por causa de um feriado nacional. A pedido da Embaixada, um alto funcionário de prestigiada joalheria abre a loja para atender o elenco e os dirigentes do clube. Armado da maior boa vontade, o rapaz destrava as estantes envidraçadas e coloca os mostruários de joias e relógios à disposição dos estrangeiros.

De volta ao hotel, o chefe da delegação recebe uma ligação da Embaixada. Uma joia valiosa havia sumido e a polícia só não será acionada se não for devolvida até aquela noite. O treinador é chamado para resolver rapidamente o problema, já que o escândalo seria enorme, caso vazasse. Paco diz “deixem comigo”, e chama o elenco para a reunião no quarto dele.

Agora, estão todos acomodados diante do técnico e de uma mesinha. Paco dirige-se aos jogadores no tom que a gravidade do momento exige:

– Um de vocês fez merda. Um puto de vocês pegou uma peça muito cara, colocou no bolso e saiu da joalheria sem pagar. Os caras descobriram e ameaçam avisar a polícia. Precisamos devolver a joia, caralho.

Suspense. Os jogadores se entreolham, tentando adivinhar quem foi capaz de fazer aquilo. O sentimento geral é de vergonha.

– Está claro que um de vocês pegou a joia. Mas não quero humilhar ninguém. Vou dar uma chance ao malandro. O (massagista) Marinho vai apagar as luzes e o filho da puta terá tempo de colocar a joia nesta mesa sem ser visto.

– Apague a luz, Marinho!

O silêncio só não é maior do que a escuridão do quarto. Ninguém percebe qualquer movimento, até que Paco autorize Marinho a acender a luz de novo.

Então, como num conto do detetive Hercule Poirot, espantosamente a joia brilha no meio da mesa. Paco elogia a honestidade dos jogadores e dispensa o grupo.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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