Negócios da bola (fim)

Tentativa de roteiro “baseado em fatos reais”, para série de TV. Os fatos que se seguem, datados de décadas atrás, envolvem um time de futebol e pessoas já mortas, cujos nomes foram modificados. Testemunhas ouvidas pelo autor narraram estas histórias, que nada são mais do que pura ficção e galhofa.

 Temporada 1, episódio 3

Saguão do aeroporto de uma capital do sul do país. Fininho, auxiliar técnico de Paco no comando do time de futebol, caminha de um lado para outro. Parece desorientado, enquanto espera pela chamada do voo que o levará de volta. Desorientado a ponto de, frustrada a primeira parte da missão, decidir voltar sem cumprir a segunda.

Dois dias antes.

Enquanto observam o treino coletivo dos titulares contra os reservas, Paco e Fininho conversam ao lado do campo. Paco fala ao assistente:

– Sabe aquele meia do time da fronteira, que a gente gostou? Pois é! Eles vão jogar domingo. Quero que você vá lá observar. Vê se vale a pena comprar.

– Claro, chefe! O cara parece ser muito bom. Aproveito e dou uma olhada no goleirinho, também.

– Ah, mas tem uma coisa que eu preciso que você faça pra mim.

– O quê? É só mandar.

– Lembra da nossa última viagem ao exterior? De lá de fora eu despachei um baú com algumas coisinhas. Pensei que ia pegar aqui, com o nosso pessoal da alfândega. Só que o avião fez escala no Sul e lá ficaram as bagagens desacompanhadas.

– Deu ruim, chefe?

– É, atrapalhou. Mas, tudo bem, vamos resolver isso. Falei com um amigo lá. Você chega no aeroporto, procura por ele, mostra este recibo e ele te ajuda a desembaraçar o baú. Na volta, uma perua do clube vai te buscar. Feito?

Dois dias depois.

Apesar do cansaço e do nervosismo, Fininho evita ficar parado. Olha para todos os lados para ver se alguém se aproxima. Sai do saguão e vai pro estacionamento em frente. Volta. Entra e sai do banheiro. Caminha de um lado ao outro do corredor dos balcões das companhias aéreas. Aguarda ansioso a chamada para embarque.

Só se acalma quando o avião começa a levantar voo. Mourão, o contato do Paco na alfândega do Sul, foi muito claro quando procurado. Disse que avisou o treinador para deixar a poeira baixar, porque o conteúdo do baú chamou a atenção do pessoal da Receita. Já tinham calculado a multa e estavam loucos para pegar o espertalhão que fosse buscar a muamba. Seria pagar ou passar alguns dias na cela da PF, ali mesmo.

– Se manda, porra. Não estou entendendo este encontro. O Paco ficou louco de te mandar aqui. Vaza. Pega o avião de volta. Se te pegarem, não diz que me conhece. Tchau, adeus…

A 10 mil metros de altura, Fininho só pensa em vingança. Filho da puta! Sabia no que estava me metendo e nem ligou. Paco filho da puta!

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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