Negócios da bola (primeira parte)

Tentativa de roteiro “baseado em fatos reais”, para série de TV. Os fatos que se seguem, datados de décadas atrás, envolvem um time de futebol e pessoas já mortas, cujos nomes foram modificados. Testemunhas ouvidas pelo autor narraram estas histórias, que nada são mais do que pura ficção e galhofa.

 Temporada 1, episódio 1

Quarto de hotel cinco estrelas em uma capital sul-americana. Paco, o treinador do time, interfona para o massagista Marinho.

– Você comprou um “3 em 1” em Nova York, não foi? Quanto pagou? Ainda está com ele?

– Sim, chefe. Paguei 100 dólares.

– Então, vem aqui. E traz o aparelho, que eu quero comprar.

Paco explica ao massagista que estava encrencado com um freguês, a quem havia prometido vender uma daquelas maravilhas. Trouxera cinco dos EUA, mas naquela manhã outros compradores apareceram e levaram todos.

Naquele tempo, quem viajava para o exterior trazia na bagarem alguma bebida, cigarros, perfumes, lenços de seda, suéteres de cashmere inglês, relógios e brinquedos elétricos. Esses produtos ficavam mais baratos quando comprados livre de impostos nas zonas francas de Lima e da Cidade do Panamá, escalas das viagens entre o Sul e o Norte do continente.

Na América do Sul, o que podia ser comprado em um país para ser vendido em outro era algumas roupas de lã no Peru e na Bolívia, cashmere de padrão inferior na Argentina, também produtora de um bronzeador, o Rayito de Sol, muito apreciado nas praias e piscinas brasileiras. Havia também alguma bebida, como o rum e o pisco, que podia interessar nas vizinhanças. Nas andanças do time pelo continente, Paco estudava bem o roteiro e avaliava os negócios possíveis.

Sonhos de consumo de maior valor agregado eram pequena TV de cinco polegadas, ainda em preto e branco, e um auto rádio chamado GoldStar, de seis válvulas, além do recém lançado “3 em 1”, equipamento que reunia toca discos, rádio e gravador de fita cassete numa só peça. Era de uma dessas novidades que o treinador precisava para não deixar o freguês na mão.

No quarto do chefe, Marinho encontra o comprador à espera. Sem ação, acompanha a rápida sequência da história. O sujeito passa 150 dólares em dinheiro para Paco, que entrega a encomenda ao novo dono. Em seguida, Paco coloca uma nota de 50 dólares no bolso e paga o subordinado com os outros 100.

– Tudo certo? Obrigado, Marinho!

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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