Hipocrisia no bote salva-vidas

Depois, os defensores das bases científicas para o enfrentamento dos problemas – e nada tenho contra a ciência de Osvaldo Cruz, Emílio Ribas e Saturnino de Brito – ficam chateados quando ridicularizados. Ou quando pegos em descaradas contradições, em flagrante militância político-ideológica.

Vejam o caso da OMS, melhor dizendo Desorganização Mundial da Saúde, com suas desorientações ligadas à pandemia. É um vai e vem tão célere quanto pingue pongue chinês. Após omitir informações disponíveis desde o ano passado e vacilar na emissão do alerta mundial que poderia ter evitado milhares de mortes com a adoção no momento certo das medidas preventivas, a entidade deu agora de oscilar entre o horror e o terror desnaturados.

Esta semana, sem mais nem menos, anunciou que o corona vírus pode ser transmitido pelo ar. Era o que faltava para alimentar o estoque de más notícias dos arautos do medo e dos telejornais que adoram colocar em polvorosa os pobres mortais que somos e sabemos, sem necessidade de mais sadismo. O bom é que os caras erram muito; o ruim é que podem acertar algum chute.

Mais honesto seria que todas essas autoridades médicas, científicas e midiáticas se dessem as mãos como num templo e, em generoso ato de contrição, reconhecessem sua brutal ignorância sobre covid-19. O que é a doença? Boa pergunta. Como se dá a transmissão? Não fazemos a menor ideia. O isolamento é a melhor prevenção? Sem dúvida, como várias outras: parar de respirar, mudar para Marte. Na falta da vacina, existe remédio que ajude? Ontem, não havia. Hoje, não sabemos. Amanhã, possivelmente sim. Ou não mais.

De forma que obrigar as pessoas a ficar em casa, como fazem governadores, prefeitos e juízes, além do Bonner, não passa de uma safada hipocrisia, por se tratar de uma solução (?) reservada a parte da população. Pode ficar em casa quem tem recursos para pagar serviços e produtos a domicílio. Não podem ficar parados os que precisam ganhar algum, provendo serviços e produtos aos privilegiados. Trata-se, pois, de um humanismo estranho, que decide, no barco à deriva, os poucos que terão lugar no bote salva-vidas.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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