Se Celso de M… pode comparar o Brasil atual à Alemanha dominada pelos nazistas nos anos 1930, posso perguntar que diferença existe entre o nosso país e as repúblicas bananeiras caribenhas, centro e sul-americanas, que fazem o sucesso dos escritores do nosso continente? Existe diferença? Talvez o que nos distingue seja o fato de que as quarteladas não são tão comuns por aqui. Mas os golpes e tentativas se sucedem com igual velocidade.
Mal a democracia brasileira foi reinstalada, após esboroar-se por si mesma a ditadura militar, lépidos tratamos de derrubar o primeiro presidente legitimamente escolhido em eleição direta. OK, o cara era inacreditável! Mas em seguida todos os outros sofreram ameaças ou tentativas de impeachment. Os mesmos que se unem para derrubar um, logo estão em fronts opostos, tentando pôr pra fora o beneficiário do golpe. “Governo bom é só o meu”, parecem dizer. São mais de 30 anos de inconformismo com o voto popular.
Enquanto o Brasil viver entre disputas eleitorais que, anunciados os resultados, se transformam em campanhas pela derrubada do eleito, dificilmente sairemos do atraso político e institucional em que nos afundamos mais e mais. É uma tristeza! Alegam os eternos golpistas que assim agem para corrigir o voto errado dos eleitores, que não sabem escolher a melhor opção disponível e colocam gente errada no poder. Conversa mole! Desculpa de quem só quer usar a democracia para chegar lá e nunca mais largar o osso.
O pessoal do PSDB previa, com a eleição de FHC, uns vinte anos dos tucanos no comando do país. Conseguiu oito anos, por causa da reeleição obtida no conchavo com parlamentares do chamado baixo clero. Zé Dirceu, que quis apear um ex-aliado do cargo ainda no primeiro mandato, pensava maior para o seu PT: 30 anos no poder. Quase conseguiu, com injeções de mensalão e petrolão. Pena! O sonho acabou no tsunami Dilma, que levou partido e país para o ralo!
No caso do lulopetismo, em suas eleições e reeleições, o golpe foi aplicado no eleitor, que só comprou gato por lebre. O Lulinha paz e amor, tal como foi travestido pelo marqueteiro do malufismo, logo se transformou no presidente que comandou o maior saque da história do Brasil, desde que os portugueses entregaram o ouro das Gerais para os ingleses. Dilma, por sua vez, ganhou duas eleições em campanhas sórdidas, movidas a fake news, à altura dos adversários Serra e Aécio. Na última, prometeu uma coisa e fez o oposto, exatamente aquilo que, segundo esbravejava na tv, os adversários fariam se eleitos.
Foi derrubada antes da metade do prazo de validade, e virou inimiga do próprio vice, que assumiu conforme manda a Constituição. Como teve os direitos políticos mantidos pelo companheiro Lewandowski, indicado ao STF pela falecida mulher do antecessor, engrossou o clamor pela redução da permanência de Temer na cadeira presidencial. Vestiu direitinho o figurino golpista, costurado sob medida para seus companheiros da esquerda.
Se entre si aplicam rasteiras, como esperar outro comportamento diante de um estranho no ninho. Bem ou mal, Bolsonaro rompeu com a alternância do PSDB e do PT no governo federal, o que é inaceitável para ambos. Anunciados os votos de outubro de 2018, já se falava em impedir a posse. Quando esta se tornou inevitável, começou a campanha de desgaste, preparatória da armação de futuros pedidos de impeachment.
O movimento em curso parece caminhar para o êxito, tanto mais que dela participam a grande mídia e o Supremo Tribunal Federal, em cumplicidade com os corruptos que têm o rabo preso até o último fio do pelo sujo. A malandragem conta também com o desonesto uso da pandemia para fragilizar o governo. E é assim, vergastando a cada ciclo as instituições democráticas, que os calhordas dizem querer ensinar o povo a votar. Pobre Brasil!
Não é o eleitor que precisa aprender a votar. São os políticos, as autoridades e as instituições que devem seguir as regras. Sem roubar no jogo!