Semana passada, um obscuro escritor, de algum sucesso junto à patota (o que é duvidoso, porque são todos intelectuais e entre eles há mais competição do que amizade), disse cheio de amor no coração que o país só vai melhorar quando o último bolsonarista for enforcado com as tripas do último pastor evangélico. Que fofo! Reproduzo sem aspas, porque esqueci de copiar e colar tão caridoso sentimento, o melhor que habita essa alma sensível.
No fim de semana, um amigo que prezo demais propôs que a atriz Regina Duarte, ex-secretária de cultura do governo federal, seja carinhosamente empalada. Sexo anal com areia e vidro moído seria sua pena, de acordo com o bom amigo, por suposta “apologia a crimes de tortura”. Quanta ternura! A moça nem foi julgada, muito menos condenada, mas já está apenada por pessoa que cultiva as práticas democráticas e ama o próximo como a si mesmo.
Sabe-se que Alexandre de Morais investiga um chamado “gabinete do ódio”. Saber o que o sujeito investiga não é difícil. Complicado é achar algo que ele não está investigando. No tal inquérito que o presidente do STF abriu e esqueceu de fechar cabe qualquer coisa. Até olhar feio, se quem olha está do lado de lá e o olhado é “gente nossa”. Uma beleza de sistema que combina acusação, apuração e julgamento, tudo a cargo de uma corte composta do pior que nossa justiça já obrou. Inclusive o famoso “juiz de merda”.
No país do mais feroz Xabuca versus Burrinha – e quem já subiu o Morro do Marapé sabe do que falo –, atribuir os pecados da ira e do ressentimento a alguém é como cuspir para cima. Mas os dedos acusadores imaginam que, como nas turras da infância, ganha aquele que “pisar aqui primeiro”. Sabem como é: quem se desloca recebe! Dito deste jeito, tem sabor de meninice. Tem até alguma graça e poesia. Mas não se deve brincar com perversidades, como descuidadamente faço agora. A coisa é muito séria e machuca.
Nos dois casos citados, a raiva irrefreável se volta contra o lado que supostamente representa o mal, encarna a tortura e defende todas as mazelas dos regimes autoritários. Os agentes do tal gabinete do ódio. Mas, no fundo, o crime que se atribui a eles é querer ser ou querer fazer, já que de fato não são nem fizeram. Ainda não, admitem os bonzinhos, alertando que estão loucos para ser e fazer. De modo que é melhor prevenir, como acreditam a grande mídia e nossas melhores cabeças.
Outro ditado antigo diz que há fogo onde há fumaça. De fato, o governo acuado de todo lado, inclusive por uma pandemia, faz o possível para alimentar as suspeitas. Raramente acerta, erra em quase tudo e suas bocas falam bobagens demais. Seu maior erro, entretanto, foi ganhar a eleição e tentar pôr em prática o que anunciou na campanha eleitoral. Como pode! É inacreditável!
Bolsonaro, vejam só, comete o crime de querer fazer um governo bolsonarista.
Dá raiva!