Alerta de utilidade pública

Sexta-feira à tarde, à caminho de Itupeva, abasteci o carro com gasolina comum num posto da avenida Marquês de São Vicente, em São Paulo. Abasteci, não. Pensei que abasteci. Vi o frentista colocar a mangueira na entrada do tanque do carro, me distraí com outras coisas e, pouco depois ouvi o barulho do desligamento automático da bomba. Conferi a conta (99,86 reais), paguei com o cartão e dei 5 reais de gorjeta para o rapaz que me atendeu. Nem me ocorreu olhar para o painel e ver se realmente o tanque estava cheio.

No meio do caminho, mais ou menos 40 quilômetros pela Rodovia dos Bandeirantes, olhei casualmente para o marcador e vi o ponteiro lá em baixo. Acredito tanto na honestidade das pessoas que meu primeiro pensamento foi: o marcador está com defeito. Preciso ver isso. Na entrada de Itupeva, já com a luzinha de alerta acesa, parei em outro posto para ver se alguém conseguia balançar o tanque e fazer o ponteiro se mover. Santa ingenuidade, Batman!

A moça que me atendeu, mais esperta, sugeriu que eu tentasse encher o tanque de novo. Surpresa! A gasolina entrou que só vendo, e o ponteiro subiu que foi uma beleza! Deu 170 paus e o tanque ficou cheínho. De uma bomba à outra, menos de uma hora e uns 70 quilômetros de distância. Que beleza!

Tempos atrás, já havia abastecido o carro ali, no posto que me encheu o tanque de vento. Pertencia a um cantor brega, que fez sucesso nos anos 1970. “Ele vendeu pra nós”, explicou o gerente com quem falei na manhã desta terça-feira e que me ouviu com cara de paisagem. Como continuo acreditando nas pessoas, não acho que houve um golpe deliberado. Talvez apenas uma falha da bomba.

O sujeito não fez qualquer menção ao necessário ressarcimento. Só quis saber quem foi o frentista, Eu disse que era melhor ele não tentar jogar a culpa no funcionário. Na verdade, nem cobrei a restituição do dinheiro. Preferi dizer a ele que tenho muito medo de gente capaz de fazer coisas como essa. E fui embora feito um otário. Apenas, por via das dúvidas, nunca mais entro lá.

(Em tempo: se o leitor for comprar um carro usado, numa dessas revendas multimarcas, vale a pena abrir o capô e conferir se o número do chassi é o mesmo da documentação. Como o Detran esteve fechado, pode não ser.)

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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