Ao sair atirando, Moro disse que tinha provas. Não tinha. Nem ele nem as testemunhas que arrolou. Decepcionou a oposição e a grande mídia, que esperavam pela bala de prata, e viram apenas um traque falhar. Aí, o ex-ministro apelou para a gravação da reunião ministerial de 22 de abril. Seria a confirmação cabal de que o presidente queria interferir na PF, argumento que convenceu o juiz Celso de Mello – tão solícito quanto seus companheiros de corte na atenção a tudo que possa encurralar o governo federal – a aceitar o vídeo como prova das acusações.
Os advogados de Moro sabiam que as revelações em nada afetam Bolsonaro do ponto de vista criminal e da acusação original, o que coloca em má situação o próprio denunciante, também investigado no inquérito aberto pela PGR. Como querer algo não é crime e nomear diretores e superintendentes de órgãos federais está no rol das atribuições presidenciais – tudo o que, com grande esforço interpretativo e muita imaginação, supostamente o vídeo contém –, Globo e companhia ganharam assim uma nova denúncia vazia.
Moro pediu, então, a divulgação de todo o teor da reunião ministerial, mesmo das partes que nada dizem respeito à questão original. Sabia da possibilidade de causar constrangimentos a Bolsonaro e ao seu governo. Sabia, acima de tudo, que o absurdo de se expor um encontro fechado de governo receberia o apoio da grande mídia – interessada, entre outras invasões de privacidade, no resultado dos exames médicos do presidente – e contava ter o STF como aliado.
Não se enganou. O decano viu a gravação e, ao perceber que nela nada há que afete gravemente Bolsonaro, lançou mão de uma antiga petição de partidos de oposição. Antes mesmo de liberar o conteúdo do vídeo para a TV Globo, determinou que seja bisbilhotado o celular do presidente. Era a máxima corte do país declarando guerra, definitivamente, ao poder executivo, pela caneta do honorável ministro, empunhada simbolicamente por todo o colegiado.
Se conseguir cometer a pretendida violação criminosa e nada achar contra o presidente, a que outro tipo de ilegalidade o STF irá recorrer depois? Quem não se escandaliza com tudo isso e até comemora as arbitrariedades do poder encarregado da defesa da Constituição deve avaliar melhor tal postura. A máxima do pau que bate em Chico também bate em Francisco está aí para ser aplicada. Depois, não adiantarão choro e ranger de dentes.
Principalmente se o choro verter e os dentes rangerem no cumprimento da ameaça de um militar do governo: as consequências podem ser imprevisíveis.