No segundo turno de 2018, espremido entre alternativas igualmente muito ruins, pela primeira vez em minha vida de eleitor optei por votar em branco. Considero essa opção mais correta, mais cidadã, do que a abstenção ou a anulação do voto, para mim formas de lavar as mãos e fugir da responsabilidade. Sabia que assim daria meu voto ao escolhido pela maioria, qualquer que fosse, e ajudaria a legitimar a escolha. Não me arrependo, pois acho que o “não-voto” foi tão decisivo para a eleição de um quanto o sufrágio dado ao adversário. Quatro anos antes, a vantagem de Dilma para Aécio foi bem menor, mas nem por isso à eleição da petista faltou legitimidade
Anunciado o resultado das urnas de 2018, porém, decepcionados pela não confirmação das previsões de vitória petista das pesquisas Ibope e DataFolha, os derrotados imediatamente passaram a trabalhar para que o eleito não tomasse posse. Não deu certo, mas eles não desanimaram. A partir de janeiro de 2019, sem observar ao menos o tradicional armistício de seis meses ou 100 dias, trataram de buscar motivos para derrubar o presidente. A chamada “resistência” aos poucos encontrou apoio em outras agrupações políticas, em representantes dos demais poderes, em instituições além das dominadas pela esquerda e, notadamente, na grande mídia.
Todas as tentativas resultaram fracassadas, uma vez que, bem ou mal, o governo aos poucos foi colocando o país na rota da recuperação econômica. Apesar das patacoadas perpetradas por alguns ministros e pelo próprio presidente, somadas às constantes contribuições da família, a popularidade de Bolsonaro seguiu em alta (menos nos mesmos institutos que profetizaram sua derrota). Até que a pandemia chegou por aqui e, diante da inevitável fragilização do país, surgiu a oportunidade tão esperada. Com os disparates presidenciais, não foi difícil para os interessados jogar as contas sanitárias e econômicas do novo corona vírus nas costas do Palácio do Planalto.
O Jornal Nacional da Rede Globo, uma das expressões maiores do ódio ao governo, passou a dividir-se em dois blocos. O bloco do pavor, que toda noite usa e abusa de cenas macabras, dignas do mais inescrupuloso mundo cão, e o bloco “fora Bolsonaro”, com espaço generoso para quem quer que tenha alguma crítica justa ou injusta a fazer, além da cobertura das sandices bolsonaras. Até panelaços, com imagem e áudio fornecidos pelos orgulhosos “resistentes”, ganharam direito ao horário nobre da TV Zorra Total.
O problema é que se torna cada vez mais difícil convencer a opinião pública de que uma pandemia mundial, capaz de causar enormes estragos em países mais ricos e desenvolvidos, se manifesta no Brasil por culpa única e exclusiva do governo. É claro que nem o Messias tem poder para tanto. E a ciência, tão invocada para explicar essa suposta culpa, até agora não deu qualquer resposta concreta ao mal que aflige o mundo. O tal isolamento é apenas paliativo, sem comprovação científica, usado em vários países com maior ou menor adesão, maior ou menor sucesso, enquanto não existem medicação e vacina.
Tem razão o ministro da Saúde: não se conhece suficientemente o novo vírus. Sua força e suas formas de transmissão, as melhores maneiras de colocar as pessoas à salvo de sua ação predatória . Em nenhum país, sequer os testes foram aplicados em número adequado e, sem eles, não se pode dizer que se atingiu algum nível de conhecimento. Nem na Alemanha. Por isso, supõe-se que o distanciamento social seja capaz de conter a contaminação. Supõe-se, acredita-se, acha-se – porque certezas, por enquanto, há muito poucas.