No post anterior, contei a história da falsa “máfia do apito”, pretexto usado pelo STJD para fraudar o campeonato e dar o título do brasileirãode 2005 ao Corinthians. Mas faltou falar da conclusão do caso. Quatro anos depois, a Justiça arquivou o processo. Com o voto de todos os seus juízes, o Tribunal de Justiça de São Paulo encerrou por unanimidade a ação penal sobre o grupo ligado a apostas ilegais, que supostamente interferia no resultado de alguns jogos de futebol. Para a Justiça, não havia o que julgar e os réus do processo ficaram livres da acusação.
A denúncia, publicada pela revista Veja em capa de 24 de setembro de 2005, resultou na anulação de 11 jogos do campeonato brasileiro, por determinação do STJD. Os jogos foram novamente disputados e provocaram profunda mudança na classificação. No fim, o beneficiado foi o Corinthians, então financiado por uma suspeita organização internacional (MSI), que acabou campeão.
Veja recebeu a denúncia da suposta fabricação de resultados dos jogos em abril, quando Ministério Público e polícia já escutavam as conversas telefônicas dos acusados. As investigações prosseguiram por cinco meses e o que se conseguiu apurar foi relatado pela revista.
No mesmo sábado, o agente de apostas Nagib Fayad, o Gibão, e o árbitro de futebol Edílson Pereira de Carvalho foram presos preventivamente e interrogados ao longo de cinco dias. Em 11 de outubro, o Ministério Público e a polícia admitiram que os interrogatórios nada acrescentaram. De acordo com as autoridades, as novidades foram declarações de Edílson à imprensa, relatando pressões que teria sofrido na FPF e na CBF, para ajudar determinados clubes.
Nada a ver, portanto, com a suposta quadrilha comandada por Gibão. Mas muito mais grave para op futebol. No entanto, a justiça esportiva não se interessou pelo assunto. Para ela, o testemunho de Edílson só valeu quando se auto incriminou. Quando envolveu a federação e a confederação, perdeu o valor.
Na esfera federal, abriu-se outra interessante linha de investigação. O Ministério Público queria saber o que levou o presidente do STJD, Luiz Sveiter, a contrariar a legislação esportiva e anular os 11 jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho. Havia fundadas razões para se suspeitar da decisão. Mas essas suspeitas não foram levadas adiante.
Quatro anos depois, processo arquivado, o árbitro saiu ileso: sua única pena foi perder o vínculo com as FPF. Da minha parte, lamentei a investigação não ter extrapolado o episódio menor protagonizado por dois pobres-diabos e avançado na direção dos escandalosos favorecimentos patrocinados pelo STJD de Sveiter e das armações feitas na CBF, sempre em benefício dos mesmos clubes. Se a investigação tivesse prosseguido, o futebol brasileiro passaria por um processo de moralização e, aí sim, ganharia credibilidade.
Sveiter, por exemplo, não teria deixado o STJD por conveniência própria. Herbert Roberto Lopes estaria banido do quadro de árbitros, junto com Márcio Resende de Freitas, pois ambos foram incluídos por Edílson na lista dos fabricadores de resultados a mando da CBF. E a sujeira de 2005 estaria apagada da história, com a punição do consórcio Corinthians/MSI.