O fim do Jornal da República e de uma época do jornalismo

Há quarenta anos, na noite deste dia, fechamos a edição de 8 de janeiro de 1980 do Jornal da República e fomos para o Spazio Pirandelo, restaurante que Vladimir Soares e Antonio Maschio inauguravam num casarão da Rua Augusta. O jornal agonizava, mas vivíamos o verão da anistia, como dizia Nirlando Beirão. O retornado Gabeira desfilava por Ipanema sua sunga de crochê, e a época era de festas. Fomos, portanto, para a festa, que Vlad e Maschio sabiam fazer como ninguém.

Duas semanas depois, na terça-feira 22 de janeiro, circulou a edição final, com um até breve em editorial otimista de Mino Carta. O jornal estaria apenas dando um tempo, e voltaria mais forte. Reconhecido pelas notáveis criações da revista Quatro Rodas e do Jornal da Tarde, Mino não admitiu o equívoco. O Jornal da República não durou cinco meses.

Como comparação, lançado em 4 de janeiro de 1966, o Jornal da Tarde estreou com um furo mundial: Pelé casa no carnaval, dizia a manchete de capa. Possivelmente formado pela mais competente redação brasileira da época, o Jornal da República não teve nada melhor do que uma geladíssima matéria sobre os estertores da carreira de Mané Garrincha para sua capa de 27 de agosto de 1979. O fracasso se anunciava de cara.

Formada em boa parte por demitidos do pós-greve de maio de 1979, a equipe de jornalistas não ficou ao relento. Parte foi absorvida pela revista IstoÉ, do grupo proprietário do jornal, e parte arranjou colocação em outras redações. Eu mesmo saí direto para a Praça Marechal Deodoro, indicado por Raul Bastos e contratado por Valdir Zwetsch, para ocupar vaga de editor de texto no Bom Dia, São Paulo!

Apesar de tudo, entendo que o fechamento do Jornal da República representou o ocaso de uma das melhores fases do jornalismo paulista, iniciada com a resistência à ditadura militar, que uniu alguns empresários da comunicação e redações submetidas a presença física de censores, e reforçada pelo aparecimento de uma combativa imprensa alternativa. Também contribuiu fortemente para precipitar o fim dessa era a reação desproporcional dos patrões diante da greve dos jornalistas. As demissões debilitaram o sindicato e levaram os jornalistas de maior prestígio a procurar soluções individuais para suas carreiras.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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