O inferno astral do jornalismo brasileiro

A reputação da imprensa anda bem suja, depois das trapalhadas recentes protagonizadas por repórteres da Globo, e endossadas em pelo menos um caso por companheiros solidários. Vejam a repórter que telefonou para um número errado e colocou o diálogo insano no ar para sustentar denúncia contra um conselheiro do clube Cruzeiro de Belo Horizonte. No último domingo, o programa Fantástico teve de mostrar a cena de comédia pastelão no ar e pedir desculpas aos telespectadores. Pode haver situação mais constrangedora para a jornalista, o programa e a emissora?

Como acreditar num jornalismo cujos repórteres interferem na notícia (Mauro Naves, na acusação contra Neymar) ou usam a notícia para gerar negócios (a repórter casada com um empresário de jogador de futebol, que entrevistou o cliente do marido para abrir uma negociação com o clube dele)? Tais fatos não são apenas vergonhosos, mas acabam com a reputação de todos os envolvidos. O caso Naves ainda respingou malcheirosamente em companheiros de outros veículos, como o blogueiro do UOL, que colocou a mão no fogo pelo repórter afastado da Globo. O blogueiro teve igualmente de pedir desculpas aos seguidores. É o que dá reagir corporativamente e/ou ideologicamente, de forma militante, sempre que se assume uma posição.

Esses seriam casos, digamos, pontuais. Mas que se repetem de forma intrigante, a indicar a inexistência de controles internos que possam inibir tais comportamentos. Tempos atrás, muito antes da implantação do VAR, um repórter de campo da emissora sentiu-se autorizado a informar os integrantes do banco de reservas do Flamengo que, na opinião dos comentaristas da emissora, o juiz havia errado na marcação de um pênalti a favor do Santos. A “informação” logo chegou ao árbitro, que voltou atrás e anulou a decisão anterior. Aquele possível gol classificaria o time da Vila e eliminaria o clube carioca da competição, de forma que a interferência externa causou grave prejuízo ao Peixe.

Talvez se deva lembrar aqui a famosa história da “máfia do apito”, revelada pela revista Veja e utilizada por Galvão Bueno, da mesma Globo, para forçar o STJD a melar o campeonato brasileiro de 2005 e diretamente ajudar o Corinthians a ganhar o título da competição. Foi um dos maiores escândalos de manipulação do futebol brasileiro. Quando a revista revelou o caso, a polícia paulista já havia concluído a investigação e apurado jogo a jogo a conduta do árbitro acusado de mafioso. Em apenas duas ou três partidas teria havido interferência do juiz modificando o resultado final.

O presidente do tribunal desportivo pensava em anular apenas essas partidas, mas Galvão exigiu a anulação dos onze jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho, e foi obedecido. No pacote incluíam-se duas derrotas e um empate do time de Itaquera, sem o menor indício de fraude. Ou seja, o alvinegro da Zona Leste paulistana havia somado apenas um ponto, dos nove possíveis. Quando os jogos foram novamente disputados, ganhou 100% dos pontos.

Mais avassalador para a credibilidade de mídias como a Globo e o UOL é o tratamento que deram ao vazamento criminoso de escutas ilegais, promovido por uma organização internacional que se traveste de jornalística, para militar ideologicamente pelo mundo. Consciente ou inconscientemente, ambos fizeram o jogo dos responsáveis pela prática desonesta. Foram cúmplices no crime. O objetivo evidente é desqualificar as condenações a que o ex-presidente Lula foi submetido pela Justiça em até três instâncias e, ao fim, obter sua libertação. Para isso, tentam jogar lama sobre o ex-juiz Sérgio Moro, a Operação Lava Jato e a força-tarefa constituída para conduzi-la.

Num cenário ainda mais amplo, a evidente cumplicidade dos dois órgãos de imprensa insere-se na chamada “resistência”, que visa a enfraquecer o atual governo, desestabilizá-lo e, se possível, derrubá-lo. O sonho é abrir caminho para a volta ao poder dos que, nos últimos 16 anos, arruinaram o País. Essa gente, quando perde o jogo, não aceita o resultado. Rouba a bola, para melar a disputa legítima.

Mas a desgraceira da Globo vai além. “Acusada” pela organização de ser defensora da Lava Jato (pelo fato de não ter concordado em publicar os vazamentos sem saber do que se tratava e qual sua origem), a emissora teve de emitir nota oficial admitindo que, em tempos recentes, fez um acordo com ela. Como sabe qualquer policial da mais remota delegacia, o primeiro passo para levar bola entre as pernas é acumpliciar-se com meliantes, porque isso equivale a confiar nos parceiros. Tempos atrás, a Globo acreditou na organização e aceitou sua parceria. Agora, recebeu o troco.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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