A gravata que o pai tatuou em nós

O bom Fonseca nasceu em Santos, no dia 19 de abril de 1911, um ano antes do Santos, e criou com Dolores uma feliz família santista.

Centro de São Paulo,1936: no peito, um orgulho só nosso

 

No início de 1936, tendo de ir a São Paulo, o jovem Fonseca, então com 24 anos,escolheu cuidadosamente a gravata que usaria na capital. Naquela época, os homens vestiam terno com gravata e chapéu. O rapaz trabalhava na alfaiataria do pai em Santos, sua cidade natal, e naturalmente seguia a moda masculina. Não se sabe se a gravata foi uma produção caseira ou teve outra origem.

Também não se sabe o fim do adorno, já que ele não estava entre as roupas que Fonseca levou para sua união com Dolores, três anos depois. Mas ficou a foto, batida por um lambe-lambe, fotógrafo de rua muito comum nas cidades brasileiras até os anos 1960.

Fonseca nasceu em 19 de abril de 1911, um ano antes do Santos FC. Quando se interessou pelo jogo da bola, naturalmente virou torcedor do Peixe. Torcia pelo Brasil, por São Paulo (alistou-se na Revolução de 1932), por Santos e pelo Santos. A essas paixões juntaria, nos anos seguintes, o amor pela família de dez filhos construída em parceria com Dolores (100 anos no próximo 5 de maio), a santista que conheceu em Xiririca (hoje Eldorado Paulista).

O time campeão de 1935

Não garoava naquela manhã da Pauliceia, e Fonseca estava particularmente feliz. Ainda saboreava a conquista do dia 17 de novembro de 1935, quando Ciro, Neves e Agostinho; Ferreira, Marteleti e Jango; Saci, Mário Pereira, Raul, Araken e Junqueirinha deram ao Peixe o primeiro título paulista. Raul e Araken marcaram, na vitória de 2 a 0 sobre o Corinthians, no Parque São Jorge.

Daí a escolha da gravata alvinegra que, bem no centro, trazia o escudo do Peixe. Fonseca caminhava orgulhoso entre os paulistanos e curtia uma espécie de vingança. Nem os juízes safados nem as tramoias da Federação tinham conseguido impedir que o título de campeão paulista, afinal, descesse a Serra. O Santos era o melhor, e não se discutia mais isso.

Neste 19 de abril de 2019, não poderei usar a gravata do velho Fonseca, que morreu em 16 de junho de 1983. Mas ela nunca deixou de estar no meu peito.

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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