Meninos para sempre: Pepe, Mengálvio, Pelé, Dorval e Coutinho
Presume-se que todos vestissem terno. Escuro, com certeza, como os chapéus que cobriam comportadas cabeleiras ou nenhum cabelo. É improvável que algum participante da reunião se imaginasse protagonista de um acontecimento histórico, no domingo, 14 de abril de 1912. Nada que se comparasse, por exemplo, ao alarde mundial em torno do Titanic, orgulho da indústria naval britânica e de Sua Majestade, que naquela mesma noite cruzava o Atlântico Norte, no rumo de Nova York. Antes que o sol iluminasse a segunda-feira, porém, o navio indestrutível, aquele que “nem o próprio Deus poderia afundar”, conforme dizia a imprensa inglesa, abreviaria seu curso no fundo do mar.
Os homens de gravata e chapéu só saberiam da tragédia nos dias seguintes. Agora, encerrado o encontro convocado por Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior, os 39 jovens deixam cheios de sonhos e esperanças o casarão da antiga Rua do Rosário, no centro da cidade. Sabem que o barquinho recém-lançado às águas é ainda muito pequeno para tanto mar. Sabem que não merecerão mais do que notas de rodapé nos jornais locais os acontecimentos daquela noite no remoto porto do Atlântico Sul. Mas também sabem que, ao contrário do Titanic, a viagem está apenas começando para os primeiros meninos da Vila e para o Santos.