O Rei em Nova York

Há 52 anos, completados no dia 21 de agosto, o Santos goleou o Benfica de Portugal por 4 a 0. Foi outro momento mágico proporcionado pelo time que, durante mais de dez anos, reinou absoluto no futebol mundial. Essa condição não foi reconhecida apenas pelo número de conquistas internacionais, mas também pelas exibições de gala que liquidaram um a um os maiores clubes europeus.

Naquela noite, aqui no Brasil, imagens do jogo entraram na escalada do Jornal Nacional, na voz de Cid Moreira. Mas por que o destaque, se a partida decidiu apenas uma desimportante Copa dos Campeões, disputada em Nova York?

Na verdade, foi mesmo um mero quadrangular, completado por Internazionale de Milão e AEK da Grécia (ambos também batidos pelos santistas). Para o futebol brasileiro, porém, o jogo teve significado maior. Foi a desforra da humilhação imposta pela seleção portuguesa aos bicampeões mundiais, dois meses antes, na Copa da Inglaterra.

No Mundial, o time português era o Benfica vestido com a camisa nacional. Já o escrete canarinho não contava com tantos santistas, como deveria, uma vez que a CBD (atual CBF) tinha resolvido agradar a todos os grandes clubes brasileiros da época, incluindo os emergentes de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Até o Bangu teve jogador convocado.

Vieram daí os absurdos e inexplicáveis cortes dos santistas Coutinho e Carlos Alberto Torres e a produção de um mostrengo, recheado de veteranos em fim de carreira, facilmente abatido por portugueses e húngaros e eliminado na primeira parte da competição. Em apenas três jogos, a seleção usou 21 dos 22 jogadores inscritos, e não formou um time.

O jogo contra Portugal foi particularmente traumático, não só pelo resultado incontestável de 1 a 3, mas também porque os lusos bateram sem dó em Pelé. Havia, ainda, a empáfia lusitana. Eusébio, estrela da equipe dirigida pelo brasileiro Otto Glória, reivindicava e se julgava merecedor do título de melhor jogador do mundo, no lugar do Rei.

O moçambicano havia debutado na decisão do mundial de clubes, quatro anos antes, em Lisboa, numa goleada considerada até hoje o maior espetáculo apresentado por um time de futebol. O Santos fulminou o Benfica, por 5 a 2, no Estádio da Luz, mas o jovem Eusébio jogou apenas os últimos minutos. Em 1966, para a imprensa lusitana, com o desempenho de seu astro na Copa, o trono passava a ter um novo ocupante. O próprio futebol brasileiro estava rebaixado.

Apenas dois meses depois, em Nova York, o Santos recolocou as coisas nos devidos lugares. Com gols de Toninho Guerreiro, Pelé e dois de Edu (o único convocado que não jogou na Inglaterra), o Peixe não deixou dúvidas sobre quem, afinal, detinha a primazia do futebol mundial (os melhores momentos dessa partida estão disponíveis no Youtube).

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

4 comentários em “O Rei em Nova York”

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