Mantenho uma curiosidade que nada tem de mórbida ou sádica. Quais são os números da covid-19 nos presídios, nas favelas brasileiras e na cracolândia paulistana? Se é verdade que as aglomerações humanas são fortes condutoras na transmissão do vírus, o que faz sentido, a situação nesses lugares deve ser muito pior do que nas cidades em que a realidade parece mais grave.
No entanto, as informações sobre essas populações são escassas. Acredito não ser difícil levantar esses dados regularmente. A apuração não exige grande empenho e tem a vantagem de dispensar o uso de aparatos cenográficos por repórteres e entrevistados, sem perigo de contaminação. Basta um contato telefônico banal com as fontes da área, como o jornalismo faz há décadas.
Ao que sei, a chamada grande mídia pouco se ocupa do assunto, a não ser para produzir relatos e cenas impressionistas, sem qualquer sustentação numérica. Parte da população encarcerada foi liberada pela justiça, sob a alegação de integrar grupos de maior risco. Não se sabe, porém, qual o tamanho do impacto da doença dentro das prisões, embora sejam frequentes as notícias de que criminosos liberados voltam a delinquir.
A cracolândia e os pontos de atendimento às populações de rua em São Paulo são outro mistério. De vez em quando, a televisão mostra a movimentação por lá, mas sem informar se são altos o contágio e a mortalidade. Na falta de jornalismo; sobram opiniões e comentários sem conteúdo. Nas chamadas “comunidades”, a desinformação é igual. Mostram-se, com as cores do sensacionalismo vulgar, as condições precárias de moradia das pessoas, desprovidas de recursos para higiene básica, como água e sabão. E só.
Quando a pandemia chegava aqui, baseada justamente na sensação de que não haveria como conter o avanço da covid-19 sobre as vastas populações carentes, uma instituição inglesa fez previsões alarmantes. O agouro foi replicado no blog de um pesquisador e chegou à grande mídia. Logo depois, as fontes deram o dito por não dito, mas o noticiário já estava contaminado também pela militância política da s empresas de comunicação e de alguns profissionais. A doença ganhou viés ideológico, ao invés de ser combatida.
É sempre bom lembrar que tais informações, bem como todas as ligadas ao assunto, são apuradas pelos municípios e pelas autoridades estaduais. Para que se possa ter uma visão nacional do problema, elas são ou deveriam ser repassadas todo dia ao Ministério da Saúde, órgão que tem a incumbência de totalizar os dados e divulgar o panorama geral. Por desencontros na chegada dos dados regionais, a divulgação diária passou por percalços, o que bastou para o governo federal ser acusado pela banda golpista de tentar ocultar os números, sonegar informações e minimizar a doença.
Daí a acusarem o presidente de ser o criador da covid-19 foi um passo curto. Na verdade, a acusação já era feita ao governo federal, que também carrega a inacreditável fama, pregada em suas costas pela grande mídia e pela politicalha oportunista, de criador de todas as mazelas nacionais em apenas ano e meio. Convenhamos que se trata de enorme façanha, pois teria superado o que o lulopetismo fez em 16 anos. Ou seja: os estragos comprovados que afundaram o país e levaram o ex-presidente à cadeia e sucessora à perda do mandato.
Safadeza é o nome dessa gente e desonestidade, o seu sobrenome.