Que mãe! Que casal!

A praia: paixão comum ao Bom e à Bela

 

As tarefas eram bem distribuídas entre o casal que morava no humilde chalé de madeira do lado ímpar da Rua Morvan Dias de Figueredo, Marapé, Santos. O pai cuidava do que se situava além do portão: padaria, açougue, quitanda, vendinha e todo o pequeno comércio que abastecia a casa. A mãe era a rainha do lar, ou talvez seja melhor chamá-la gata borralheira, tantas e tão cansativas eram as atribuições de criar a crescente ninhada, fazer a comida, cuidar da casa e produzir na máquina Singer as camisas, calças e calções que nos vestiam.

Também eram divididos pelos gostos. O pai adorava cinema, futebol e livrinhos de bolso com histórias de faroeste. E não dispensava a leitura diária de A Tribuna. A mãe era amarrada no rádio: ouvia música e acompanhava as novelas, desde a ancestral O direito de nascer, da personagem Mamãe Dolores (ops!). No fim da tarde, antes da bênção do padre Donizete, de Tambaú, trocava ideias sobre as tramas com Dona Helena, a vizinha que morava com o pai, o feirante Ciço. Seus comentários tinham um bordão inicial: “Eu pra mim…”, dizia, introduzindo vaticínios sobre os próximos capítulos.

Outra diferença! O pai queria que começássemos a trabalhar desde logo, o mais cedo possível, para ajudá-lo nas despesas. E tinha razão, pois mesmo reforçado por inúmeros bicos (faxineiro, garçom, cobrador, bilheteiro e toda obra que pedisse um pau), o salário mínimo de servente público, não dava conta da missa. Já a mãe preferia nos ver na escola, e nisso teve sucesso. Além disso, ela corrigia os nossos erros de português e zelava pelo bom tratamento do idioma em seus domínios. E amava antúrios.

Mas havia traços fortíssimos de união: como a família que construíram, a praia com as crianças, os passeios a dois pela cidade – de bonde, ônibus circular ou a pé – e a paixão pelo Peixe. Além, é claro, do amor que os uniu até a morte dele e que deve perdurar até hoje, nos planos em que estão a Bela Dolores e o Bom Fonseca!

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

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