Passarinhos

O lagarto cinza com manchas amarelas desce rebolando o caminho de terra. Tem cerca de 80 centímetros de comprimento e é um tanto gordo. De repente, para, observa o pequeno barranco coberto de heras e fareja o alimento. Começa a caminhar para lá, quando a passarinha sai das folhagens e pousa, primeiro à direita do bicho de língua comprida. O lagarto vira-se e a passarinha, ligeira, faz um curto voo sobre ele, indo parar do outro lado. Começa a dança. O lagarto olha para a esquerda e a passarinha vai para a direita. O lagarto é lento e a passarinha, ágil. Ficam assim por alguns minutos, até que o lagarto desiste do almoço e retorna pelo mesmo caminho. Missão cumprida! A passarinha volta ao ninho e aos ovinhos.

O passarinho marrom está petrificado, bem no meio da calçada. O homem se aproxima conduzindo dois cachorrinhos, que passam um de cada lado, indiferentes à figura paralisada. Será uma pedra? Uma folha ressecada? Cocô de cachorro grande? Nada que interesse. Aliviado, o bichinho volta às suas tentativas de alcançar as plantas do outro lado do muro, sem perceber que a parte de cima é vidro grosso. Só por isso ele vê aquele verde, que o atrai. O pobre voa, bate e cai de volta. Mas não desiste. Vê ali um refúgio mais seguro do que a calçada. O homem percebe o drama. Recolhe o passarinho e o deposita num galho da pitangueira plantada junto ao meio-fio. Dali, os horizontes serão mais amplos, e o bichinho poderá voar para onde quiser

Publicado por

Marcão

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto, dois poodles e nove irmãos. Santista de mãe, pai, cidade, time e o que mais bem qualifique essa condição. Sem vaidade, só verdade!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *